Pela lógica racionalista da “destruição do PT“, que se pode ver pela escolha maciça por um candidato da elite em São Paulo, o povo é evangélico, de elite, ladrão, gosta de apanhar da polícia e adora ver a merenda dos filhos ser roubada. Ora… nossas escolhas se dão de forma diversa do que nossa vã consciência determina, tanto na política quanto no amor.
Transformar a política nessa brincadeira racionalista acreditando que voto se dá com a razão, quando em verdade ele vem das tripas, é apenas demonstração de ingenuidade e pouco alcance visual. O voto contra o PT foi dado depois de uma ampla e extensa campanha midiático-jurídica de criminalização das aspirações populares, um avanço sem precedentes de todas as armas de propaganda contra o partido que, apesar de seus inúmeros defeitos e falhas, mudou a cara do Brasil.
Insistir na tese do “partido que dividiu o Brasil” (como se antes reinasse harmonia entre as classes sociais) ou ser o partido do “nós contra eles” é mais do que ingenuidade: é cegueira auto imposta. Esse Brasil SEMPRE teve donos, e a culpa do PT foi provar ao sujeito negro, pobre, miserável e faminto que esse país também lhe pertencia.
Infelizmente, os antigos donos inquestionáveis da nação não suportaram ver aquela “negrada suja” invadindo seus domínios, e o resultado em São Paulo ficou claro: vamos votar nos patrões, na política rasteira, na elite quatrocentona e vamos induzir o pobre e o evangélico – entorpecido pela propaganda – de que se trata de uma cruzada contra o Mal, o demônio e a cisão, e a favor da “paz entre donos e serviçais”.
Como eu disse anteriormente, não reclamo de urna. A vitória da banda podre da política brasileira, da elite empresarial e da impunidade deve servir para um grande aprendizado, em especial das esquerdas. Por muitos anos subestimou-se o poder da mídia de transformar qualquer sujeito social em um fantoche. Não se sabia também o poder imenso de um judiciário parcial em moldar o imaginário do povo. Também o poder da Igrejas em manipular as mentes e manter a população pobre das periferias encabrestada foi negligenciado, mas tudo isso servirá de ensinamento para o futuro, desde que sejamos capazes de aprender com os nossos erros.
Que não foram poucos.
O Brasil não colocou o PT no lixo… colocou o PT de castigo. Não há como destruir o PT, muito menos as utopias da esquerda, pois elas são como ervas daninhas: quanto mais se tira mais elas crescem. Não comemorem muito, antipetistas. Os ideais de equidade e justiça social não vão desaparecer pela onda moralista, fascista e racista que assola o mundo inteiro. Precisa mais do que um golpe para matar nossos sonhos.
O progresso é feito de avanços e retrações. Agora é o momento de recolher os cacos, chorar pelas ilusões perdidas, levantar a cabeça e reerguer o partido. E que as esquerdas tenham a sabedoria de construir um caminho onde as semelhanças sejam mais importantes do que as naturais diferenças.