História Fabricada

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Acabei de descobrir, em uma postagem do prof Luis Felipe Miguel, que a frase “Quem gosta de miséria é intelectual” não é de Joãozinho 30, mas do jornalista Elio Gaspari, que a colocou na boca de Joãozinho em uma entrevista fabricada. Esta era uma estratégia do velho jornalismo: criar fábulas, entrevistas inexistentes (mesmo que baseadas na verdade) e depois apresentar aos entrevistados para que concordassem. É claro que nem todos os jornalistas agiam desta forma, mas a esperteza destes velhos jornalistas me chamou a atenção.

Por outro lado eu lembro de uma história (ou lenda) de que um dos primeiros empregos do Woody Allen foi criar frases inteligentes e espirituosas para serem proferidas – com falsa originalidade – por atores de Hollywood, celebridades emergentes e políticos americanos. É provável que muitas reputações na época tenham sido forjadas por este artifício. É possível também que muitos “grandes” jornalistas do passado usavam estratégias deste tipo; talvez fosse mais usual do que imaginamos. Imensas entrevistas prontas eram entregues ao “entrevistado” apenas para conferência. Mentiras que se eternizaram pela criatividade de quem tinha a atribuição de (d)escrever a história.

E as biografias históricas de personagens do passado distante, escritas pelos colunistas sociais da época? Que verdades podemos retirar de tais textos? Quantos canalhas perversos recebem estatuto de santidade hoje em dia por histórias fabricadas dessa forma? Quantos sujeitos íntegros foram destruídos em vida, e após ela, por estas artimanhas?

Eu também não sabia da real autoria da frase sobre os intelectuais e a miséria e jurava que a frase era de Joãozinho 30.

A propósito de Woody Allen, ele escreveu um conto em que o presidente dos Estados Unidos diz a um assessor direto:

– Quando estivermos em reunião mais tarde pergunte-me “Qual o tamanho ideal das pernas de um homem”. Entendeu?

– Mas por que essa pergunta, senhor, indagou o assessor surpreso. 

– Ora, porque tenho uma ótima resposta: “Ideal para que alcancem o chão”. Não é maravilhoso?

Eu sempre interpretei essa piada do Woody Allen como um resquício do tempo em que ele fazia exatamente isso para políticos,  celebridades e atores. Entregava uma piada pronta, ou uma observação espirituosa, e pedia para alguém servir de “escada” para que fosse dita em público.

Isso não é a história sendo descrita ou contada; é a história sendo fabricada.

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