Políticos são seres contraditórios e falíveis, iguais a todos nós. São retirados do povo, como eu e você. Não são seres de outro planeta e nem foram sujeitos a regras morais diferentes do contexto onde cresceram. Carregam os mesmos valores de seus eleitores, e são uma amostra bem razoável do nível moral e cívico da população que os elege. Quando xingamos os políticos de forma genérica (como efetivamente fazemos) estamos xingando a nós mesmos. Eles mostram de forma bem clara quem verdadeiramente somos, enquanto coletividade.
Os políticos da Noruega são a imagem do seu povo, mas lá no norte da Europa uma empregada doméstica ou um trabalhador de fábrica ganha um ótimo salário enquanto o dono do jornal ou o empresário do comércio não se torna um mega multimilionário às custas da exploração dos seus empregados. Pensem nisso quando compararem a criminalidade ou a corrupção entre estes países. Não se reduz criminalidade e corrupção sem combater esses desníveis imorais de renda e acesso ao consumo. Uma sociedade que permite miseráveis já é estruturalmente violenta, mesmo que o aparato policial seja tão bom a ponto de impedir todos os crimes
Se quisermos um país justo não devemos esperar nada dos políticos; devemos começar por nós mesmos, escolhendo nossos representantes sem ser movidos e estimulados por interesses pessoais. Sejamos os melhores políticos possíveis no parlamento do nosso cotidiano.
Exija de você tanto quanto exige dos outros, mas não se iluda; não pense que as conquistas de bem estar e justiça podem acontecer sem abrir mão de privilégios injustos adquiridos no curso de várias gerações.
Arcebispo François Clevert, homilia sobre as “Dádivas Seletivas”, fevereiro 2017.
O Arcebispo François Clevert nasceu na França, na cidade de Reims, na Champagne francesa. Foi ordenado sacerdote em 1963 e destacou-se pelo espírito progressista de seus sermões. Engajado politicamente, foi um ativista dos direitos humanos palestinos durante a Primeira Intifada em 1987 e manteve-se ligado a eles até os dias de hoje. Socialista e ecologista, escreveu “Dádivas Seletivas” como um manifesto anti capitalista e contra a ação violenta do homem contra a natureza e contra minorias. Mora em Toulouse no Convento dos Jacobinos desde sua aposentadoria por problemas de saúde.