“Sentou-se sobre o tronco da velha árvore e tirou do alforje uma pequena caixa de madeira onde guardava o fumo. As labaredas lambiam a madeira fazendo o crepitar dos galhos secos soarem como lamentos de dor. Ao seu lado Willock resmungava enquanto juntava os últimos caixotes. A munição precisava ser guardada em local seco e o céu sem estrelas não lhe garantia uma noite sem chuva. O silêncio na colina era entrecortado pelo uivo dos lobos, enquanto os grilos raspavam suas patas tentando acompanhar a triste melodia do vento.
Harding fechou seu cigarro com a palha que trazia no bolso do colete, mas antes de acender falou para Willock, que se ajeitava no chão ao seu lado.
– O fato de sermos poucos nesta luta não é apenas porque eles não enxergam o mundo com nossos olhos, Wee. Não os vejo como estúpidos, ignorantes ou maus; eles não são tolos, muito menos perversos. Não se trata de uma falha de caráter, mas uma perspectiva distinta na qual já estivemos inseridos, e tu bem o sabes.
Willock aquiesceu arqueando as sobrancelhas para cima enquanto aproximava o bule de café do fogo à sua frente.
Harding pigarreou, acendeu seu cigarro e deu uma longa baforada para cima. A fumaça encontrou a brisa fria da noite e foi levada adiante, misturando-se com os aromas úmidos e escuros da mata. Cuspiu no chão à sua frente e continuou:
– Talvez mais relevante do que eles não conseguirem ver o que vemos seja os fato de que desconhecemos por completo o que os move. Não entendemos mais o mundo pelos seus valores e seus sapatos já não nos cabem mais. Se pudéssemos entender porque precisam tanto seguir pelo caminho que há tanto abandonamos seria mais fácil fazê-los ver as razões que nos levaram a uma escolha tão radical.
As palavras de Harding ficaram presas ao silêncio que se seguiu e a única resposta que veio foi o piar das corujas anunciando o início de sua caçada vespertina.”
Scott P. Floyd, “Who Killed the Messenger?”, Ed. PubliMar pág 135