Exatamente por ser tão importante e criativa a função das doulas na construção de uma psicosfera positiva para o parto é que se torna tão fácil que elas caiam no deslumbramento de sua ação no parto. Por outro lado – e isso foi lembrado por muitos – essa constatação não é uma exclusividade das doulas; elas são apenas as últimas personagens a adentrar o cenário do parto e do nascimento. Os médicos há bem mais tempo, ao afirmarem que “fizeram” o parto de fulanas e sicranas, também se deslumbram com sua arte, ao ponto de despudoradamente expropriarem o evento da mulher.
Essa “couvade” contemporânea facilmente nos leva à inveja recôndita e ancestral que os homens carregam da parturição, apanágio do mistério feminino. Até mesmo as parteiras, profissionais ou tradicionais, com muita facilidade escorregam no próprio encantamento e se acreditam mais importantes do que verdadeiramente o são. Todavia, não se trata de desmerecer a atuação de nenhum desses personagens que constroem o “circulo de apoio” que milenarmente ofereceu o suporte psicológico, físico, emocional, técnico, social e espiritual para o parto, desde que adentramos o universo da linguagem. Trata-se apenas de estabelecer limites à nossa atuação, para que nossa emoção diante do milagre da vida não carregue – escondida entre lágrimas e emoções – a semente da vaidade desenfreada, que colide frontalmente com o principal atributo de um cuidador: a humildade.
A luz que emana do parto, criada a partir da emissão de energia bruta de amor e superação, não pode ser eclipsada pela vaidade daqueles que o acompanham. Para isso é necessário que seja exercitada cotidianamente uma postura de respeito e veneração ao trabalho da mulher.
Doulas, parteiras, médicos que desejam resplandecer deveria se inscrever no “big brother“. Não é função desses personagens brilhar, mas tão somente refletir. O brilho só pode vir da mãe, caso contrário não passa da mesma velha expropriação, agora com novos atores.