A cultura enxerga o corpo da mulher como usufruto de todos, por isso é exposto, vendido, adorado, perseguido e manipulado. Já o corpo da mulher grávida é de todos, menos dela mesma. A sociedade diz: “A gravidez é um evento grandioso demais para ser confiado às mulheres. O fato de elas guardarem para nós os bebês não pode lhes garantir o direito de tratar seus corpos-cofres como bem desejam”.
Um corpo grávido é um bem social, enquanto a grávida é um estorvo e um risco ao nosso patrimônio.
Jeffrey Edmonds, “Atirem no Mensageiro – Crônicas à beira do abismo“, Ed. Vulture, pág 135 (no prelo)
Jeffrey Edmonds é um ginecologista americano, nascido em Seattle em 1980. Escreveu muitos estudos e trabalhos relacionados a parto e nascimento sob uma perspectiva sociológica e com viés psicanalítico. Em seu livro descreve os embates pela desmedicalização da saúde – em especial no parto e amamentação – que se chocam contra os interesses corporativos e do próprio capitalismo como forma de organização econômica da sociedade. Deixa claro que a humanização do nascimento só terá plenitude na sociedade com a suplantação do capitalismo, visto que as forças que lutam contra o parto humanizado são as mesmas que sustentam o capitalismo e sua vertente neoliberal. Assim, insere a luta pelas mulheres (parto e amamentação) e a luta anticapitalista (solidariedade e democratização da saúde) num mesmo corpo e demonstra que estas lutas precisam estar unificadas para obter sucesso. Mora em Seattle e coordena o núcleo local de “Socialist Doctors for America”.