Ninguém está suficientemente preparado para a desimportância. Entretanto, mais cedo ou mais tarde, ela chega. Na maioria das vezes ela aparece de forma insidiosa e silente. Entretanto, em outras vezes, a mudança é tão brusca que você dorme sendo necessário e desperta descartável, com a mesma surpresa de quando acorda e descobre que perdeu as meias no meio da madrugada.
Algumas pessoas, como as mulheres – cuja importância na vida de um filho significou durante milênios a diferença entre sua sobrevivência ou desaparição – sentem essa desimportância lenta e paulatina como uma dor aguda e angustiante, à medida em que os filhos ganham asas.
Preparar-se para deixar de ser necessário é uma das tarefas mais duras da vida. Calar-se para que as vozes novas sejam ouvidas é uma forma de se maturar para o desenlace inevitável. Resignar-se com o destino de todos diante da imensidão do universo é prova de sabedoria.
Rabindranat Gupta, “Saadhu Kee Talavaar” (A Espada do Monge), Ed Ganges, pág 135
Rabindranat Gupt nasceu em Hyderabad, na Índia, em 1929. Fez seus estudos iniciais em sua cidade até que se mudou para Bangalore por ocasião do processo de libertação da Índia, em 1947. Em Bangalore estudou direito e filosofia, e começou a trabalhar com as populações carentes de sua região oferecendo suporte legal para as demandas populares. Escreveu “A Espada do Monge” em 1970, e nesse livro descreve sua luta contra as autoridades governamentais em Bangalore para defender comunidades miseráveis do despejo “higiênico” determinado pela municipalidade. Morreu em 2002 de infarto em Delhi.