Uma verdade que aprendi muito cedo, mas a duras penas: a mão que afaga é a mesma que apedreja, do famoso poema de Augusto dos Anjos. Todo aquele que oferecer o seu amor cobrará uma contrapartida, e caso esta não seja devidamente paga, torna-se inevitável a emergência do ódio e do ranger de dentes.
Sim…. é uma espécie de amor. É o amor do fã, do torcedor e do admirador pelo seu ídolo. É o amor do sujeito que grita “goze por mim, já que eu sou tão pequeno“, e essa paixão terá sempre um (alto) preço. Quando ele não é plenamente correspondido – o que, por definição, nunca é – sobrevém o ressentimento e, muitas vezes, o ódio mortal.
Você não silencia quem lhe ama. Inegável o brilho nos olhos de quem escuta um afago no ego. Pelo contrário: embevecido pelo canto da sereia você ingenuamente acredita nos elogios e se julga merecedor de todos eles. “Todas essas pessoas não podem estar erradas“, pensa, sem se dar conta que existe uma piada sobre isso que envolve moscas e dejetos. O bloqueio só vem quando chega a conta a ser paga. Aí é que você percebe que vinha recebendo um salário de afetos sem ter sequer solicitado, mas que mesmo assim o usufruía. Aí é tarde para negociar as cláusulas; uma parte já foi paga, agora só resta aceitar a indignação do consumidor irritado.
A saída? Nunca aceite a posição de guru. Fuja da posição delicada de porta-voz dos desejos alheios na qual lhe colocam. Não aceite os elogios honrosos e exagerados que lhe fazem e, acima de tudo, “sê fiel a ti mesmo”, e não tenha medo de desagradar quem outrora tanto lhe amou. Cultive uma parcela fiel de inimigos: são eles que vão lhe avisar dos seus piores defeitos. Não ceda aos seus princípios por vaidade, dinheiro ou amor…. mas aprenda a adaptar os caminhos justos ao tamanho dos passos da jornada. Seja apenas você mesmo e pague o preço de ser o que é.