Se o seu corpo é território,
onde disputas acirradas
atropelam gerações,
como não aceitar por legítima
a luta por ser retomado?
Se a riqueza dessa terra,
por ter história e ser matriz,
seduziu o forasteiro
que dela quis se apossar,
como não aceitar que o ventre
– e tudo que tem em volta –
queira mais do que depressa
para casa retornar?
Os lindeiros desse chão,
achados de posse eterna,
se esqueceram que a pequena,
por mais delicada que fosse,
tinha na mão um desejo
e no coração um poema.
O poema curioso,
cheio de rimas frágeis,
dizia meio por assim,
porque a memória anda fraca,
que a conquista não se faz,
no martírio e na faca.
Que a mulher ou é livre,
ou melhor então que nem nasça,
pois quem dá de si o leite,
de sua carne outra uma,
não pode viver cercada,
da liberdade impedida.
O poema era esse,
que a lembrança agora falta,
por mais que a mente procure
a palavra escondida.
Mas na mão está o desejo,
que se abre e nos afirma,
que a mulher tão paciente,
agora se joga à luta.
Mais que a dor de sempre
ela agora só procura,
o caminho que é só seu,
que desenha na lonjura
do seu doce caminhar.
Marilia Carillo de Cuellar “Las Flores de la Ventana Roja”, Ed. Marchand, pag. 135