Quando analisamos o papel da maternidade na cultura humana e sua importância central podemos nos defrontar com questões controversas. É verdadeiro o peso desproporcional que recai sobre as mães pela sua condição e também a necessidade, diante do fim dos papéis sociais fixos, de redistribuir as responsabilidades que o casal tem em relação ao cuidado parental. Porém, é importante refletir sobre os significados desse peso. Se você olhar pelo lado da culpa tudo fica pesado e doloroso, mas se você olhar pelo viés da responsabilidade, a mãe é efetivamente o canal por onde a criança é introduzida ao mundo da linguagem.
Ontem eu estava contando uma história para o meu neto quando ele me interrompeu e disse: “Mas nesse lugar não tinha aranhas, né? É que eu tenho medo de aranhas. Eu e a minha mãe…”
Na verdade a mãe dele é que tem medo de aranhas e ele se identifica com seus sentimentos. As crianças sempre produzem essa conexão violenta e libidinal (originada da altricialidade) com a figura da mãe, que Freud chamou de Complexo de Édipo. É sobre essa relação intensa, amorosa e criativa que se estabelecem os fundamentos do psiquismo humano. A mãe é, portanto, o centro constitutivo da vida emocional da espécie. É natural que recaia sobre ela a responsabilidade (não a culpa) de construir o mundo afetivo das crianças, seus filhos.
A visão estrutural humana solidamente construída pelo amor primordial entre um bebê e sua mãe – e o amor que ela lhe dirige em contrapartida – nunca foi suplantada como chave essencial para compreender o desejo humano. Não acredito que seja possível aliviar o “peso da maternidade” retirando das mães a responsabilidade de serem as construtoras de mentes, introdutoras da linguagem e até mesmo aquelas que oferecem um pai ao seu filho – pai que um dia poderá resgatar esta criança das garras mortais do amor materno.
Não vejo sentido em “pegar pesado” com os autores que reconhecem a importância da mãe no sustento psíquico das sociedades humanas. Entretanto, se este valor feminino fosse extinguido, levando às últimas consequências a “liberdade da mulher”, teríamos uma sociedade sem esse peso em suas costas, mas talvez sem amor suficiente para que a própria espécie pudesse sobreviver.
É de Freud a frase:
“A maior função de uma mulher é ensinar seu filho a amar. A maior função de um homem é livrar seu filho de ser consumido pelo amor materno“.