Champagne

Quando a gente fica velho as coisas passam a ter um valor relativo. É mais difícil ficarmos vivamente emocionados com um show de música ou mesmo um filme, mesmo que sejam realmente bons.

Lembro do meu amigo, Major Rogério, que me contava da vez em que foi convidado a experimentar uma Champagne de uma cave exatamente dessa região região da França. O anfitrião vinha de um longa família de tradicionais vinicultores franceses na região mais famosa do mundo nesse cultivo e nessa prática.

A abertura da garrafa empoeirada na adega escura e úmida foi rodeada de cerimônia.  Um ar circunspecto e solene envolvia as ações do velho champanheiro. O ambiente foi marcado pela mais austera religiosidade, e as ações eram pontuadas de rituais que confirmavam a gravidade da abertura da garrafa há tanto tempo guardada.

Ploc!! O som da rolha liberta de sua camisa-de-força vítrea ecoou pelos porões da mansão e liberou o gás naturalmente formado pela fermentação.  Abriu-se a caixa com as taças de cristal e o líquido borbulhante chiou em efervescência diante do seleto grupo. O contato com o sabor se fez obedecendo o protocolo mais rígido.

O major me relatou da seguinte forma sua experiência:

“Eu sequer ousava pensar o quanto custariam os poucos goles daquele líquido se houvesse eu que pagar por eles. Entretanto, o sabor foi tão diferente e tão inusitado que produziu efeitos insólitos e paradoxais. Primeiro, e mais importante, me garantiu uma memória gustativa inesquecível e perene. Tenho certeza que em meus derradeiros momentos de vida ainda terei a lembrança dessa preciosidade. Por outro lado essa experiência produziu para mim uma condenação triste e solitária: daquele dia em diante eu nunca mais fui capaz de tomar champanhe comum com o mesmo prazer e entusiasmo. A excelência daquela maravilha matou algo genuíno que eu tinha: o prazer simples das coisas comuns.”

Ficar velho e experiente lhe faz desconfiar das “novidades”. Isso é bom, mas as vezes triste.

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