Diante de qualquer uma das múltiplas faces dos transtornos mentais, da ansiedade à depressão, o que mais se ouve é “você precisa de remédios“, e não o oposto. Não acredito que as pessoas pesadamente adictas aos remédios psiquiátricos sofram discriminação, mas sei o quanto é difícil ser diferente numa sociedade normótica.
Manifestar-se contrário à adição medicamentosa é situar-se numa posição contra hegemônica em uma sociedade que coloca fora do sujeito (coisas, drogas, dinheiro, parceiros) a conquista da felicidade. Mas a saúde cobra caro por essa atitude endorcista. Prince e Michael Jackson morreram por tomar remédios que se compram em farmácias. Milhões de crianças estão usando Ritalina nas escolas enquanto muitos outros milhões tomam antidepressivos para ansiedade e para depressões saudáveis (como o luto). Não parece que estamos usando drogas para curar a ferida de um estilo de vida doentio?
Assim, pedir bom senso no uso de drogas e solicitar que não se abuse delas para patologizar a vida normal é um desejo justo, além de ser urgente. Como já foi dito, isso não significa negar medicação para as raras situações onde ela é mandatória, mas reconhecer que seu uso quase sempre ocupa o lugar de algo que não foi dito ou para ilusoriamente secar uma ferida que se mantém aberta esperando o sopro da palavra.