Após 45 minutos de explanações sobre o melhor modelo arquitetônico e as formas de organizar pessoas em centros obstétricos para maximizar resultados o palestrante solta a frase definitiva que eu, secretamente, já gritava em minha mente: “Estamos aprimorando um produto que as mulheres não querem comprar”.
Bingo!!! Ufa, felizmente ele falou o que era indispensável. Nenhum – literalmente – sistema pode funcionar enquanto dádiva; qualquer um pode ter sucesso se for por conquista. Se esses modelos não partirem de uma MUDANÇA CULTURAL onde as mulheres sejam encorajadas a tomar as rédeas do processo nunca haverá verdadeiro protagonismo e no máximo teremos “sofisticação de tutela”.
Portanto, somente a mudança de baixo para cima, envolvendo as mulheres e suas associações representativas, poderá produzir um sistema que seja realmente eficiente e produza resultados consistentes em longo prazo.
Outra frase marcante, esta do sociólogo Raymond DeVries: “nenhum estudo muda a realidade; eles servem para oferecer substrato científico para nossas crenças e desejos”.
Se a ciência e as pesquisas médicas tivessem esse poder nenhuma episiotomia seria realizada há mais de 30 anos e nenhum país teria taxa de cesarianas superiores a 15%. Medicina e toda a assistência à saúde são questões políticas e respondem às leis de poder e pressão, como toda e qualquer decisão política.