Eu as vezes acho que as esquerdas, ao serem tão pró-establishment, fazem o jogo que a direita gosta e aplaude.
Pensem bem; Bolsonaro foi eleito com um discurso anti sistema, contra os poderes, contra o “globalismo”, criticando as grandes corporações. Em suma, contra o mundo inteiro, tal qual ele se apresenta a nós. Por causa disso, por representar a mudança (falsa, é verdade) ele angariou milhões de simpatizantes. O discurso de contraposição aos governos, de revisão de valores, de mudança de modelo econômico e de reversão de valores foi cooptado pela direita.
A direita, assim, se tornou proativa, colocando a esquerda como reativa, acuada, nas cordas, na defensiva. A esquerda entregou a narrativa à direita, e se adaptou à condição de “resistência”. Isto é, “vamos resistir ao que eles fazem conosco”. Passividade assumida. Assumimos aquele cartaz infeliz de algumas marchas “Parem de nos matar!!”.
Para quem viveu a ditadura, a abertura democrática, a constituinte e viu ressurgir a esquerda no Brasil testemunhar o grito “Obedeçam às autoridades” vindo do nosso campo é muito estranho. Bizarro, eu diria. Oferecer essa narrativa de enfrentamento aos mauricinhos não me desce pela garganta.
Vejam, por exemplo, a pandemia. Não vou me ater à eficácia de qualquer tratamento, mas a postura da direita foi desde o princípio como contestação do status quo. Inobstante estar equivocada, a direita se mostrou crítica e contestadora, enquanto a esquerda se mostrou submissa à autoridade, seja da ciência oficial, da OMS, das empresas farmacêuticas, da TV, dos grandes conglomerados industriais. Empresas mafiosas multinacionais tornaram-se heroínas nesta batalha, as mesmas cujas práticas foram historicamente denunciadas pelos partidos à esquerda. Desde quando Bill Gates e George Soros poderiam servir de exemplos para socialistas??
Mesmo no meio da paranoia e das teorias de conspiração mais fajutas, é notável o empenho da nova juventude de direita em produzir mudanças no cenário atual de crise aguda do capitalismo. Por certo que elas se resumem ao aprofundamento da distância entre as classes, mas ao menos a eles é oferecida a honra de lutar contra os gigantes do capitalismo “globalista”. Eles se esforçam em fazer, enquanto nós nos acomodamos na re-ação.
Enquanto a esquerda glorifica seus antigos adversários, oferecendo apenas complacência e concordância, a direita seduz os jovem a lutar “contra tudo isso que tá aí, taokey?“
A direita procura heróis, a esquerda mártires..