Ontem uma moça me chamou no Messenger porque estava interessada em promover um curso de homeopatia para profissionais do parto. Disse ser doula, ativista, apaixonada por partos e que mora em uma cidade no interior do Brasil. No meio da conversa, e das tratativas sobre o futuro curso, perguntou quem eu era e qual a minha formação, pois não me conhecia, apenas viu uma mensagem que me ligava a cursos de homeopatia na gestação e no parto.
A existência de uma doula neste país que nunca ouviu falar de mim é algo que me deixa extremamente… feliz!! Pensem que há alguns poucos anos isso era impossível; éramos tão poucos e centralizados que era impossível não conhecer os poucos profissionais da atenção ao parto que acolhiam, capacitavam e trabalhavam com doulas. Seu desconhecimento da minha existência prova, de forma inequívoca, que eu não sou tão importante como imaginava, e que a disseminação da mensagem das doulas pode prosseguir sem a minha contribuição ou mesmo existência.
O movimento se espalhou de uma forma e com tal velocidade que os dinossauros aos poucos vão caindo no esquecimento e isso, ao contrário do que parece, deve ser celebrado. Qualquer movimento que se assenta sobre personalidades – ao invés de se apoiar em propostas e ideias – está fadado ao fracasso e ao desaparecimento.
O movimento de doulas no Brasil se tornou extremamente descentralizado, abrindo novas fronteiras de debate e trabalho todos os dias. É notável a capacidade de multiplicação dessa ideia e uma das formas de medir este impacto está na resistência – por vezes agressiva e desleal – dos sistemas de poder instituídos contra a organização e ação das doulas nos hospitais. Também é uma medida de poder dessa proposta a resiliência corajosa das doulas de continuarem existindo apesar de todas as violências cometidas contra elas e seu trabalho.
De minha parte, esta sempre foi a minha maneira de enxergar um projeto de sucesso: trabalhar pela própria desaparição, crescente e insidiosa, para dar lugar a ideias novas, personagens mais capazes e por propostas mais radicais.
Apesar do enorme amor que temos por nosso próprio ego, reconhecer a importância de sair de cena é um dos principais elementos para dar sentido ao trabalho de uma vida inteira.