Sim, mesmo que me falem de todos os outros amores, o amor do casal estará sempre em primeiro lugar porque é o único dos amores do qual somos dependentes para a continuidade da espécie. Se eu tivesse que proteger um, seria esse. Os outros, inobstante serem importantes para a vida de comunidade, não nos garantem a reprodução. Já passei pela experiência de pai de crianças, e sei enquanto minha nova função de avô é gratificante e significativa, porém certamente ela é acessória.
Eu concordo que estas formas contemporâneas de poliamor, trisal e outras arquiteturas são “mais do mesmo”; no fim das contas as mulheres biológicas vão engravidar de alguma forma e os cuidados dessas crianças será distribuído de forma não uniforme para quem estiver em volta. Se houver afeto como laço, tanto melhor.
“O amor é isso que uma mulher devota ao seu filho, e todos os outros amores são dele derivados”. Nem bom e nem mau, apenas uma força coercitiva extremamente poderosa. Feita assim mesmo, para ser violenta e avassaladora, pois que desta energia depende toda a vida.
Ardian Kovaçi, “Romancë, cigare dhe vodka” (Romance, cigarro e vodka), ed. Paqe dhe Drejtesi, pág.. 135
Ardian Topalli Kovaçi é um escritor e terapeuta albanês nascido em Tirana em 1957. Filho de agricultores viveu uma infância de pobreza durante o governo socialista de Enver Hoxha, mas pôde estudar psicologia na Universidade em Tirana. Dedicou -se à clínica privada nos primeiros anos de formado vivendo na capital, enquanto escrevia para os jornais da Sociedade Albanesa de Psicologia. A coletânea desses artigos compõe seu livro mais conhecido, “Sob as Ruínas da Tabacaria”, de 2000, onde faz uma crítica mordaz ao totalitarismo albanês, tendo como cenário a famosa tabacaria onde Enver Hoxha criou a primeira célula do Partido Comunista da Albânia. Trabalha como colunista do Lajmi i Fundir, escrevendo sobre amor e relacionamentos. É divorciado e tem dois filhos.