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Tríptico Amor Romântico – 1. Amores decadentes

Tenho uma curiosidade sobre a “decadência do amor romântico” e gostaria de saber a opinião das pessoas sobre essa ideia. Por que tantos acreditam que o amor romântico “não funciona” e precisa ser eliminado? Qual a alternativa a ele? Se o amor romântico não funciona a alternativa seria a construção de uma cultura hedonista, baseada em múltiplos encontros sexuais e amorosos fugazes, superficiais e “operacionais”, tipo, objetivando apenas a reprodução? Poliamor seria a resposta para o desejo? Relacionamentos abertos? E as crianças? Tribos, comunidades, comunas? Como podemos imaginar as sociedades, as famílias, as crianças e a velhice num mundo pós amor romântico?

A questão proposta é apenas esta: se o amor romântico como o entendemos não tem mais sentido, como seria a estrutura social do futuro? Amores líquidos, meteóricos? Prazeres descompromissados? Surubas cibernéticas? Sexo casual? Filhos comunitários? Admirável Mundo Novo?

Para ser mais explícito, não é sobre apaixonamento, tesão ou outros tipos de amores que estamos falando. “A crise do amor das relações surgiu no horizonte como um impacto muito forte, com as separações tanto das relações mais formais como as informais. O casamento oficializado entra em crise.” (Edson Fernando Oliveira). A crise está na ideia de que precisamos nos relacionar por amor, pelo desejo de formar parcerias longas, “até que a morte os separe”, uma vida conjunta envelhecendo em parceria, ao lado de filhos, netos e bisnetos. É sobre esse “contrato social” de pessoas que estão juntas e decidem se manter assim porque se amam. Não é sobre paixão e desejo, mas a forma de acomodá-los, criando uma dualidade afetiva duradoura.

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Amor

Sim, mesmo que me falem de todos os outros amores, o amor do casal estará sempre em primeiro lugar porque é o único dos amores do qual somos dependentes para a continuidade da espécie. Se eu tivesse que proteger um, seria esse. Os outros, inobstante serem importantes para a vida de comunidade, não nos garantem a reprodução. Já passei pela experiência de pai de crianças, e sei enquanto minha nova função de avô é gratificante e significativa, porém certamente ela é acessória.

Eu concordo que estas formas contemporâneas de poliamor, trisal e outras arquiteturas são “mais do mesmo”; no fim das contas as mulheres biológicas vão engravidar de alguma forma e os cuidados dessas crianças será distribuído de forma não uniforme para quem estiver em volta. Se houver afeto como laço, tanto melhor.

“O amor é isso que uma mulher devota ao seu filho, e todos os outros amores são dele derivados”. Nem bom e nem mau, apenas uma força coercitiva extremamente poderosa. Feita assim mesmo, para ser violenta e avassaladora, pois que desta energia depende toda a vida.

Ardian Kovaçi, “Romancë, cigare dhe vodka” (Romance, cigarro e vodka), ed. Paqe dhe Drejtesi, pág.. 135

Ardian Topalli Kovaçi é um escritor e terapeuta albanês nascido em Tirana em 1957. Filho de agricultores viveu uma infância de pobreza durante o governo socialista de Enver Hoxha, mas pôde estudar psicologia na Universidade em Tirana. Dedicou -se à clínica privada nos primeiros anos de formado vivendo na capital, enquanto escrevia para os jornais da Sociedade Albanesa de Psicologia. A coletânea desses artigos compõe seu livro mais conhecido, “Sob as Ruínas da Tabacaria”, de 2000, onde faz uma crítica mordaz ao totalitarismo albanês, tendo como cenário a famosa tabacaria onde Enver Hoxha criou a primeira célula do Partido Comunista da Albânia. Trabalha como colunista do Lajmi i Fundir, escrevendo sobre amor e relacionamentos. É divorciado e tem dois filhos.

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A dor da diferença

Muitos heterossexuais julgam os homossexuais como sendo promíscuos, frágeis, egoístas (sexo sem prole) e incapazes de relacionamentos afetivos duradouros. Já muitos gays acham os heterossexuais covardes (já fui tratado assim), com vidas sexuais monótonas, chatos e sem graça. Conformistas e preconceituosos.

Tudo errado…

São todos preconceitos tolos. Nada existe na homossexualidade inerentemente promíscuo ou egoísta, e nada existe da heterossexualidade que leve o sujeito a ter uma sexualidade monótona. Em verdade, o fato é que as escolhas dos outros, quando divergem das nossas, são desafiadoras. Todavia, ao invés de aceitarmos como válidas as diferentes perspectivas que a vida oferece, nós as atacamos com a ilusão de diminuir nossa angústia por termos escolhido esse caminho – e não o outro.

Funciona como o ateu que se irrita com a fé alheia ou o ex fumante que não suporta ver alguém demonstrando publicamente tamanho prazer com o cigarro. Também aqueles que raivosamente publicam fotos de gente na praia durante a pandemia enquanto se refugiam nos seus apartamentos consumindo Doritos e Netflix. O prazer do outros nos causa angústia e dor.

O poliamor, por exemplo, agride meus sentimentos de exclusividade, mas quem disse que precisa ser assim? Talvez a posse dos corpos para os deleites do prazer seja obsoleto mesmo, e o futuro verá a monogamia com a mesma estranheza que hoje vemos o culto à virgindade ou o cinto de castidade.

De minha parte, melhor garantir o muito que tenho em uma só. Se já é difícil achar uma que suporte minha neurastenia, que dirá com muitas. Aliás, não conseguiria nem dormir, imaginando o complô para me exterminar.

(a partir de uma conversa com Deia Moessa Coelho)

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