A transição entre a idade medieval e o período renascentista foram bastante marcantes. No período medieval havia um marcado teocentrismo que determinava que a relação do homem era com Deus, sendo que os humanos eram sempre tratados como falhos, fracos, inferiores e falíveis. Todas as relações eram mediadas pelo criador, e o ser humano era ensinado desde cedo e temê-lo. Diante do poder divino o homem era incapaz de reagir. Com o Renascimento a relação se dá entre homem e natureza, fortalecendo a noção de que este é capaz de conhecer e transformar a natureza em seu benefício. O Renascimento inauguro uma visão antropocêntrica, onde o homem passa a ocupar o lugar outrora ocupado por Deus.
O Renascimento é marcado por algumas modificações muito importantes. Ocorre um renascimento comercial pela ampliação dos horizontes com as grandes navegações, em especial aquelas patrocinadas pelos ibéricos. As cidades, esvaziadas durante a idade média e o domínio da Igreja Católica, voltaram a ser ocupadas, criando-se os “burgos”, pequenos vilarejos que deram o nome modernamente utilizado de burguesia, ou seja, aqueles que vivem em cidades.
Não apenas a revitalização das cidades, o comércio e as navegações, mas algumas invenções foram fundamentais no Renascimento, como a bússola, a pólvora, o papel e por fim a mais importante delas: a imprensa, pois com ela foi possível popularizar e disseminar o conhecimento. Também a imponência do poder centralizador da Igreja, que perdurou durante toda a idade média a partir da queda do Império Romano do ocidente, foi abalada pelas reformas protestantes conduzidas por Martinho Lutero, a ponto de produzir como força de reação a chamada “Contrarreforma” católica.
Outros elementos do período renascentista foram os incrementos artísticos – causados pelo dinheiro excedente nas principais cidades que financiaram grandes artistas através do mecenato – como também científico, que produziram o surgimento de gênios como Nicolau Copérnico e Galileu Galilei.
A mentalidade medieval tinha essa perspectiva teocêntrica, e todo o saber deveria ser encontrado nas escrituras. Pouco – ou nenhum – espaço havia para uma visão crítica sobre as palavras sagradas, tratadas como lei acima de todas as outras. O ser humano era fraco, frágil, pecador, insuficiente e só poderia ser salvo através da “Doutrina da Graça”, algo que se concentrava no desejo de Deus, independente das obras realizadas. O corpo era pouco importante, assim como os bens materiais. Toda a variedade dos fenômenos da natureza tinha como explicação a vontade divina, de quem nada escapava. Havia um estímulo ao conformismo, já que a vontade do Criador seria soberana, inobstante qualquer ato que pudéssemos realizar. Nesta visão de mundo a fé era superior a qualquer desígnio da razão.
Em contrapartida, a mentalidade surgida com o renascimento oferecia uma nova visão do homem e sua relação com a sociedade. A visão passou a ser antropocêntrica, tendo o homem como centro de todas as decisões. O conhecimento deveria partir da experiência, dos estudos e pesquisas e baseados na razão. O ser humano passou a ser retratado como belo, como pode-se observar nas obras dos grandes pintores e escultores renascentistas como Leonardo da Vinci, Rafael, Boticcelli, Caravaggio, Tintoretto e Michelangelo. Os fenômenos da natureza passam a ser explicados pela razão, e não mais pelos augúrios do Criador ou suas vontades inexpugnáveis. O mundo renascentista se preocupava em mudar o mundo, abandonar o pessimismo, olhar o belo dos corpos, o prazer e a luz da razão. Não mais a fé a guiar os caminhos, mas a luzes que emanam de um pensamento claro, livre e baseado no real.
O Renascimento produziu uma grande abertura para a expressão mais nobre da alma humana: um período de luz, afugentando o pessimismo e as visões diminutivas do ser humano, introduzindo o novo tempo que será marcado pela razão e pela expansão do conhecimento.