A bateria do meu velho carrinho faleceu, apesar dos nossos esforços paliativos. Descobri a loja mais próxima e telefonei perguntando se haveria bateria de 60 amperes. O jovem atendente confirmou e lá fui eu para trocar. Fui atendido por um jovem de 20 e poucos anos que me mostrou em um catálogo o tipo de bateria que eu precisava, mas lamentou pois havia se enganado.
Sim, a bateria estava em falta e a que eu precisava chegaria apenas no meio da tarde. Desculpando-se pela falha ele se comprometeu a levar na minha casa, já que eu estava com a Avinha e a Bebel e não teria como esperar.
Pediu meu endereço e se surpreendeu que éramos quase vizinhos, pois ele morava não mais de 500m da Comuna. Perguntou o que eu fazia e eu lhe disse que trabalhei 35 anos como obstetra. Nesse ponto, o dono da loja de baterias apontou para o jovem e falou orgulhoso:
– Esse meu filho está se formando em psicologia.
Surpreso, perguntei a ele o que pretendia fazer depois da graduação, e ele me respondeu sem titubear: “clínica psicanalítica”. Disse que estuda Freud e Lacan e pretende fazer pós graduação aqui mesmo em Porto Alegre. Conversamos sobre alguns dos meus professores daqui, como Alfredo Jerusalinsky, Contardo Calligaris, a psicanálise argentina e a APPOA. Por fim ele me disse que no momento estava fazendo estágio em clínica de crianças, que era o que pretendia fazer no futuro. Nos despedimos e voltei para casa. Agora estou aguardando a chegada da bateria.
Pergunto a você, que leu até aqui: quando você imaginaria que, ao procurar um lugar para trocar sua bateria arriada, seria atendido por um psicanalista?