Ao ascender à razão e à linguagem, fugindo da escravidão de sua biologia, desenvolvendo a percepção de si mesmo e inserido numa existência que lhe proporciona lições do passado e projeções para o futuro, o homem se separa inexoravelmente do jugo da natureza. Essa cisão, retratada na expulsão do paraíso, retira o homem da segurança do mundo natural e o joga desnudo no mundo em que, deixando de ser objeto da natureza, torna-se sujeito. Nessa travessia passa a mudar os fluxos naturais e seu equilíbrio dinâmico para, desta forma, produzir um meio ambiente que o beneficie, mesmo que em detrimento das outras espécies animais e vegetais. A história da espécie humana é contada pelo enfrentamento com a natureza próxima, a mesma que, ao mesmo tempo em que lhe produz medo, oferece os recursos para a sua subsistência.
Por certo que ao produzir as tecnologias para a modificação ostensiva da natureza, a quebra do equilíbrio produzido por milhões de anos de adaptação seria inevitável. Muitas espécies animais foram extintas pela ação direta do homem, como os mamutes na Europa e os tigres de dente de sabre na América Latina, já no pleistoceno. A domesticação de plantas também produziu o desaparecimento de espécies silvestres, gerando desequilíbrios em função da rede intrincada de interdependências entre as espécies que delas se alimentavam, resultados inevitáveis da ação predatória da nossa espécie sobre todas as outras.
A degradação ambiental se refere ao esgotamento ou extermínio de um recurso potencialmente renovável – como as águas, o solo ou o ar ambiente – pelo uso humano em uma velocidade superior à sua capacidade de regeneração. Este abuso dos recursos naturais pode ser de tal intensidade que é capaz impedir a possibilidade de renovação, até mesmo ao ponto da extinção de espécies silvestres, destruição de rios ou até mares.
Um exemplo moderno é a desertificação de porções grandes de regiões outrora repletas de água. Um dos mais impressionantes desastres foi o ocorrido na Ásia Central, no Mar de Aral – o quarto maior lago do mundo – produzida pelo cultivo de algodão durante a dominação soviética da região, com políticas agressivas de irrigação que, em um período curto de não mais de 40 anos, exterminou 90% da água desse mar interno. O que antes eram 60 mil km² de água, com profundidade de até 40m, agora não resta mais do que uma fração disso. Existem projetos para a recuperação gradual do Mar de Aral mas, como sempre, esbarram em dificuldades econômicas e políticas, e no fato de que destruir é muito mais fácil e rápido do que reconstruir um bioma deteriorado.
A devastação da floresta amazônica pela derrubada de sua mata nativa, que se incrementou nos últimos anos pelas pressões de fazendeiros impondo suas perspectivas ao governo central, pode produzir um resultado dramático logo adiante. O resultado – que já se observa agora – é a crescente desertificação e grandes períodos de seca da região sudeste, já que a reduzida evaporação de água produzida pela maior floresta tropical do mundo pode exterminar os “rios aéreos” que permitem a essa região se manter rica em chuvas e umidade. Esse efeito benéfico tende a desaparecer com a tomada de crescentes porções da floresta por pasto para a pecuária nas regiões da Amazônia legal. Se não houver uma política severa de preservação desse bioma as repercussões para ao própria agricultura da América Latina podem ser catastróficas.
Por último é importante lembrar que a industrialização ocorreu majoritariamente a partir do uso de combustíveis fósseis como o carvão e o petróleo, cuja queima é utilizada para o fornecimento da energia que movimenta indústrias, automóveis, trens, etc. Como subproduto temos a formação de gases tóxicos derivados desse processo de combustão, ocasionando a poluição atmosférica e as doenças consequentes da baixa qualidade do ar. Existem cidades cuja poluição é tão grave que precisam ser interditadas e houve até algumas que precisaram ser definitivamente abandonadas pela impossibilidade de sobrevivência em decorrência da degradação do ar. No Brasil a cidade de Cubatão se tornou referência internacional de poluição ambiental e a região metropolitana do Rio de Janeiro é hoje um dos locais com maior poluição do ar de todo o país.
Para mudar essa condição o mundo terá que se defrontar com uma realidade: uma sociedade de consumo que precisa destruir o meio ambiente para estabelecer “progresso” é uma sociedade fadada ao fracasso. Imaginar recursos infinitos em uma realidade finita é um equívoco que pode nos custar muito caro, e entre os riscos está a própria extinção da espécie humana.