
A frase foi escrita para mim depois de ter postado nas redes sociais uma das minhas teses controversas. A pessoa que a escreveu acompanhava os meus escritos há muitos anos e dizia mesmo que gostava do que eu publicava. Mas quando ela respondeu daquela forma à minha postagem soou uma sirene na minha cabeça. Por que deveria eu me preocupar em não decepcioná-la? Que lugar era esse em que ela havia me colocado?
Quando temos admiração por uma personalidade qualquer, desde um presidente, uma artista famosa ou até o marido da sua tia construímos em nossa cabeça sua imagem virtuosa. Devotamos a ela nosso afeto, reconhecimento e amor. Por outro lado, essa carga afetiva dada de forma espontânea exige uma contrapartida: queremos que o nosso afeto e nossa devoção sejam pagos de maneira equivalente ao amor que oferecemos. Uma forma de pagar é exigir que se mantenha fiel à imagem que dele fazemos.
Este tipo de cobrança me traz à memória a morte da cantora Selena Quintanilla, uma grande diva da música Latina, morta em 1995 pela chefe do seu fã clube, Yolanda Saldívar. Por certo que, para Yolanda, havia uma dívida imensa de amor que jamais foi paga por Selena, e esta foi a razão principal de sua atitude tresloucada: a dolorosa decepção pela falta da contrapartida do afeto oferecido. “Onde há amor demais, afaste-se”, diria o sábio.
Também com os nossos ídolos é assim. Demandamos deles que sejam sempre como nossa imaginação e o nosso desejo determinam. Queremos que pensem como nós, não se afastem dos nossos valores, e que sejam um exemplo de vida impoluto e sem qualquer mácula. Essa é o pagamento que lhes cabe para saldar a dívida que acumulam conosco.
Com o tempo me dei conta do quanto essa devoção é aprisionante. Quando escrevia textos controversos – alguns até exagerados – acostumei a encontrar manifestações do tipo “sempre curti o que você escrevia, mas agora não dá mais para aguentar, seu….” e colocavam um adjetivo demeritório. Claro que isso me afetava e muitas vezes troquei termos, expressões e o até sentido de uma frase para não ser violento em demasia. Por outro lado eu sentia um enorme temor de mudar algo dos meus pensamentos mais sinceros apenas pela pressão em cumprir o desejo de alguém.
Hoje eu sou obrigado a reconhecer que a sensação de alívio que acompanha essa libertação é inegável. Falar, escrever, cantar, gritar e se manifestar livre de qualquer constrangimento é uma sensação única, e merece ser tratada como um real objetivo de vida. Como dizia meu pai “Liberdade é nossa meta última”.