
Qualquer sujeito dotado de poder, magnetismo, beleza física e carisma pode facilmente ser envolvido em um caso de abuso. Diga lá: quantas mulheres se interessariam por um envolvimento com sujeitos nessa posição? Milhares, eu me arrisco a dizer. Quantas investiriam em uma aproximação? Por certo que muitas. Quantas avançaram o sinal?
Pois é exatamente nesse encontro que ocorrem as maiores perversões e tragédias.
O abuso que ocorre por parte dos gurus pressupõe duas pontas: o sujeito que acredita na sua qualidade superior, por lhe faltar a necessária castração, e aquele outro que aceita se submeter ao poder fálico de quem tudo sabe sobre si. Esse encontro é explosivo e frequentemente catastrófico. Quando vi o documentário sobre o Osho eu não me surpreendi com seu magnetismo ou seu poder de mobilizar milhões (de seguidores e de dólares) mas a quantidade inacreditável de sujeitos solicitando avidamente para serem submetidos a esse poder magnético e essa dominação; legiões de masoquistas imersos no gozo da subserviência e à ordenação do mestre supremo.
Em minha imaginação eu me perguntava o que havia faltado a essas pessoas em sua infância mais precoce para precisarem, já adultos, de um cabresto místico a guiar cada um de seus passos. Do que são carentes essas mulheres que pulam de forma hipnótica nos braços de um abusador, cujo carisma magnético as atrai como abelhas no mel? O que falta a estes jovens rapazes para se sentirem tão atraídos para a obediência cega aos ditames do mestre? Por que se tornam impenetráveis à razão e às evidências? Por que tamanha necessidade de acreditar?
Desenvolvi desde cedo uma alergia a qualquer tipo de sujeito que assuma a posição de guru, em especial aqueles que evitam o nome, mas se comportam como se assim o fossem. De todos eles procuro distância, desde os religiosos, passando pelos cientistas, os médicos ou os artistas. Todo sujeito que é colocado nessa posição e se sente confortável neste lugar, recebe de mim o imediato rechaço. Não acredito em gênios verdadeiros que, desprezando Sócrates, pensam saber de tudo mas negam a imensidão do quanto ignoram. A verdadeira sabedoria é humilde exatamente pela constatação da infinita ignorância que carregamos como marca.
O segredo, digo eu, é o exercício constante de desinstituir-se, retirar-se constantemente da posição de mestre, para não permitir o esvaziamento da potencialidade do pupilo. “Para a existência de um guru repleto de saber há que existir um aluno esvaziado dele”..
A análise permite ao sujeito a fuga da alienação e o exercício do pensamento crítico, em especial sobre si mesmo. Resistir a tentação dos gurus é uma ato de fervor em nome da autonomia e da liberdade
Escrevi e apaguei pensamentos acerca do tema por várias vezes. Por fim não sei como uma pessoa é subtraída assim. Essa capacidade de sequestrar a subjetividade é loucura. Como alguém pode se considerar superior?
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