Na música “O Meu Guri” Chico Buarque nos descreve de uma forma tocante e poética a perspectiva de uma mãe sobre as desventuras de seu filho, que era um pivete, um menino ladrão, um meliante. A forma amorosa e cálida como ela descreve seu “guri” sempre me tocou de uma forma muito especial porque revela algo muito significativo: todo sujeito, por pior que seja, já foi uma criança cheia de sonhos, recebeu amor de sua mãe – ou de alguém ocupando esse lugar – e já carregou em seu sorriso nossos sonhos e projetos.
Quando me falam de uma figura odiosa – do atual presidente aos policiais rodoviários de Sergipe que executaram Genivaldo – eu tento imaginá-los crianças, cheios de sonhos, de esperanças, abrindo-se para a vida. Imagino como se fossem meus filhos, e tento imaginar como poderia acomodar a reprovação de seus atos com o amor que teria por eles. Penso que eles tiveram mães, que por certo devotaram a eles o afeto que as mães sempre oferecem. Assim, penso que a maldade que eles carregam é devida a algo que aconteceu no meio do caminho, tropeços que os desviaram do melhor rumo. Todavia, por certo eles um dia foram crianças a quem abraçamos, desejamos felicidade e em quem depositamos toda a esperança no futuro.
Também quando uma dessas figuras se vai desse plano eu penso naqueles que choram sua partida, por piores que tenham sido ao nosso olhar. Não há ninguém que seja tão mau e deteriorado que não seja digno de um amor, de um afeto, de uma boa lembrança e, se formos olhar pelos olhos de sua mãe, ele será para sempre “o seu guri”.
Os canalhas também tiveram suas mães, também tomaram banho de chuva, tiveram seus amigos diletos, brincaram na rua até escurecer e igualmente tiveram seus sonhos e planos. O que nos diferencia deles são minúsculos detalhes numa trajetória acidentada, que pode levar qualquer um para o desvio, para o erro – ou para o sucesso. Mais do que nossas diferenças, o mais chocante na natureza humana são nossas semelhanças, e o que nos separa – no longo matiz que distancia o facínora do gênio e do anjo – são esses pequenos desvios de rota.
Sim, até os(as) canalhas têm mãe…
Imagem: “A famosa “Condessa sanguinária” figura entre as mulheres acusadas de serem as maiores assassinas da história, já tendo servido de inspiração para muitos escritores e cineastas. Sua imagem é pejorativamente associada à de uma pessoa obcecada pela juventude, a ponto de se banhar em sangue para preservar a própria beleza. Numa época em que era comum a nobreza castigar a criadagem desobediente, Elizabeth Bathory foi apontada como causadora da morte de diversas pessoas. As acusações de assassinato em torno dela aumentaram e uma ordem de investigação contra a mesma foi executada. Em 1610, um caderno de propriedade da nobre foi encontrado contendo o nome de aproximadamente 650 vítimas.”
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