Em uma página de Facebook encontrei uma apaixonada defesa da Alemanha em que se tenta apostar na tese, muito disseminada no governo Dilma, de que os alemães são uma civilização superior e que essa superioridade moral determinou a vitória de 7 x 1 sobre um Brasil que construiu “estádios fantasmas” e estava grávido de bolsonarismo.
Estas teses xenofílicas e viralatistas, que apostam na inferioridade natural dos povos abaixo do Equador, são muito comuns aqui no sul do Brasil. O autor da página é de ascendência italiana e frequentemente dispara ataques violentos contra o cidadão Neymar, e recebeu de mim um discreto contraponto. Acho sua manifestação quase um estereótipo daquelas que testemunhei durante toda minha vida surgindo de colonos, tanto alemães quanto italianos do Sul do país e que estão na origem do bolsonarismo por estas bandas.
Sua manifestação trouxe também alguns pontos bem curiosos. Faz uma critica à gozação contra a Alemanha por sua desclassificação chamando-a de xenofobia mas, para além disso, trouxe uma informação final impressionante. Disse ele:
“É sério que tem torcedor de copa comemorando a eliminação da Alemanha por causa dos 7×1? Vocês acham mesmo que a culpa disso foi da Alemanha, que em um Brasil já grávido de Bolsonaro deu um exemplo de civilidade construindo um CT e deixando como legado, enquanto nosso país construiu estádios fantasmas? É tipo a rivalidade Brasil e Argentina, criada pelo Galvão Bueno em 1990. Vocês são sem noção.”
Ou seja, a velha marca macunaímica de achar que os europeus são moralmente superiores e nós, meros colonizados, não passamos de corruptos e perdulários. Ou seja, nossa derrota de 7 x 1 não foi pela lesão do Neymar no jogo anterior, ou pelos erros táticos do nosso time. Sequer ocorreu pela superioridade tática e técnica dos alemães. Não, ela ocorreu porque eles são alemães e nós simples brazucas, subdesenvolvidos, corruptos e moralmente inferiores, adoradores de Bolsonaro.
Mas o mais inacreditável da manifestação foi a frase final. A rivalidade Brasil x Argentina foi criada por Galvão Bueno? Em 1990?? E a “Copa Roca”? E a pauleira que os argentinos deram no Santos de Pelé nas libertadores dos anos 60? O que dizer da Copa de 78 na Argentina, e as suspeitas do jogo comprado do Peru para nos desclassificar? E o frenesi da nossa vitória por 3 x 1 no embate de 82? E nossa derrota em 90, com direito a envenenarem a água dada aos brasileiros?
Eu acompanho essa rivalidade desde os anos 60 e sei bem como é. A insinuação de que a maior rivalidade futebolística entre nações surgiu há 30 anos por causa de um narrador esportivo não faz sentido algum, mas bem demonstra o desconhecimento sobre essa disputa já centenária.
Quanto à Alemanha, nossa “vingança” contra eles só haverá no dia que eliminarmos os alemães na casa deles numa Copa, fazendo uma sonora goleada. Caso contrário, não. Precisamos maturidade para aceitar nossa derrota, assim como só conseguimos ser campeões do mundo após aceitar o fracasso de 1950.
Depois de explicar o quanto é absurdo considerar a rivalidade Brasil x Argentina como uma simples “invenção de Galvão Bueno” fui, claro, bloqueado.