Reis do Povo

Pelé e Lula na Comemoração do cinquentenário do primeiro mundial (1958)

Já é possível sentir o bater de asas dos abutres esperando o Pelé morrer para despejar seu racismo em forma de críticas morais ao Rei do Futebol. Não é fácil para o Brasil Branco exaltar um Rei Negro. Nunca o aceitaram, e não será agora. Agora nas redes, e do alto de sua pureza moral, identitários estão postando críticas à vida privada de Pelé, numa tentativa de destruir a imagem do maior ídolo do esporte mais importante do planeta.

Sempre que eu escuto a narrativa da filha é nítido que aqueles que a contam não conhecem a história toda e estão fazendo críticas baseadas em meias verdades, mentiras e fofocas. Poucos se dão ao trabalho de escutar os dois lados do enredo. Mas antes desse episódio Pelé já era atacado por “não ajudar Garrincha” – sendo desmentido por Elza Soares – ou de “não ter ido ao seu enterro“, como se cuidar do craque das pernas tortas (que jamais foi seu amigo) fosse sua obrigação. Sempre existiu uma enorme patrulha sobre quaisquer atos de Pelé, como se o fato de ser negro e famoso lhe conferisse uma dívida com os brancos que permitiram a sua notoriedade.

Quando Pelé dedicou o milésimo gol às crianças, naquele jogo emblemático no Maracanã contra o Vasco, foi porque não passava de um ingênuo que estava fazendo demagogia. Quando levou o nome do Brasil para todo o mundo, sendo eleito o maior atleta do século XX e patrimônio da humanidade, o fez apenas por dinheiro. Se foi o maior jogador do mundo é apenas porque “naquele tempo era mais fácil”, mesmo que as agruras do futebol violento a que foi submetido nos anos 60-70 fossem inimagináveis quando comparamos com o que é praticado nos dias de hoje.

Em verdade os ataques a Pelé muito se assemelham às agressões sofridas por Lula desde que este se destacou como líder no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC Paulista. Quando Lula ressaltou a importância de dona Marisa na criação do PT em seu velório foi atacado por estar fazendo comício sobre um corpo já sem vida. Se Lula vai a um restaurante caro é um “comunista gourmet”, mas se faz um piquenique com dona Marisa e carrega um cooler de isopor na cabeça é porque não passa de um populista criando um personagem. Quando Lula visitou um apartamento, sem jamais ter a posse do mesmo, foi caçado impiedosamente por uma horda de promotores fanáticos e um juiz corrupto.

A verdade é que, inobstante o que façam, Pelé e Lula jamais serão aceitos pela burguesia deste país exatamente por serem quem são: representantes das camadas populares, do povo pobre, dos descamisados, dos negros, dos operários, dos mulatos, nordestinos e retirantes. Ídolos dos torcedores cuja alegria máxima é o gol e heróis para os pobres que sonham com uma vida digna para sua família. Não há perdão para os ídolos que, emergindo das camadas inferiores da sociedade, tornam-se ícones planetários por suas habilidades, seja no esporte ou na política.

Não terei pena daqueles que resolverem tripudiar sobre o corpo frágil do Rei do Futebol, o atleta máximo do século XX, o maior gênio que o esporte já criou neste planeta. Eu me impressiono muito com o esforço imenso que algumas pessoas fazem para odiar Pelé. Pois eu digo: odeiem o Chico Buarque também. Apesar de ser branco, se procurarem bem vão achar alguma razão para ele ser cancelado. Vamos, sei que imaginação não lhes falta.

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