Projeções

O próprio fato de levantarem o caso de Pelé com a filha durante o processo de morte do Rei Pelé já é uma amostra do viralatismo e do “racismo que não se contém”, marca registrada da nossa classe média. Como já foi dito por “Isuperio” no Twitter, “Desconsiderar o legado de Pelé pelos seus erros humanos também faz parte do projeto de desumanização das pessoas negras. Não esqueça que estamos em um país que tem estátuas, monumentos e nomes de rua dados a escravagistas, ditadores e estupradores”. Mas um fato fica claro nas manifestações que acusam Pelé nas redes sociais: Tudo que você lê agora na Internet sobre o Edson é pura projeção. Na maioria vem através de mulheres que projetam a indiferença do Pelé com Sandra como se fosse sobre elas. Por isso a imensa maioria das críticas nos chega com uma carga violenta de indignação.

“Ahh, mas só as mulheres podem falar dos dramas do abandono parental”, dizem alguns. Ora, e por que seria assim? Meninos não são igualmente abandonados por pais? E eu, por princípio, não acredito em “lugar de fala” como silenciador de divergências. Os homens e as mulheres podem falar das suas experiências pessoais (com a paternidade, por exemplo) a partir de um lugar privilegiado. Todavia, isso não garante que mulheres possam falar de abandono e homens não; afinal, se o abandono for paterno, os homens também deveriam ter a fala garantida. O que acontece é que 99.9% das pessoas que criticam Pelé o fazem sem saber o que ocorreu, mas também porque projetam sobre esse fato os SEUS traumas. É projeção o tempo todo, e isso torna o debate pouco racional, totalmente dominado por questões emocionais e sujeito às paixões.

Essas pessoas olham para o Pelé e enxergam nele a imagem daqueles homens que os(as) decepcionaram, mesmo que os fatos alegados contra Pelé sejam contestáveis. Além disso, Pelé não pode ser julgado pelo abandono parental que homens (e até mulheres) cometem no Brasil; ele só pode carregar suas culpas, e não a de todos os homens.

Como princípio do direito, as vítimas são sempre os depoimentos menos valorizáveis, porque são contaminados por emoções violentas. Minha tese é de que, a críticas violentas contra Pelé dizem muito mais das pessoas que o acusam (muitas delas vítimas de uma paternidade falha ou ausente) do que da relação de Pelé com Sandra, que chegaram até a se reconciliar, e cujos filhos foram sustentados com a pensão do avô Pelé até hoje.

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