O mundo ainda fala muito da Lady Di e se lembra dela com saudade, mesmo que seja alguém de quem conhecemos apenas sua face pública, a imagem na TV, as manchetes de jornal e quase nada da sua verdadeira personalidade – a não ser pelos relatos de amigos próximos que só podem falar bem dela. Ora, até eu terei amigos a me pintar com as cores da doçura quando partir, que dirá a “lady dos britânicos”.
Não creio – e fica claro que se trata de uma crença – que Diana fosse uma má pessoa; pelo contrário, acho que era uma mulher como qualquer outra, com sonhos, desejos, amores, filhos imersa em uma vida de luxos e holofotes. Acredito que, tirando de foco sua fortuna, seu casamento mágico, sua vida de contos de fada, sobraria apenas uma garota entre milhões de outras, que teve a chance de viver o sonho dourado de tantas meninas.
Mas, talvez no casamento de Diana Spencer com Charles haja algo muito mais importante a aprender do que a história pomposa de final trágico. Como em todo conto de princesa, há uma bruxa. Esta personagem encarnou na figura de Camilla Rosemary Shand, também chamada Camilla Parker Bowles pelo seu casamento com o oficial Andrew Parker Bowles. Ela era 14 anos mais velha que Diana e mais velha até que Charles, um pouco desengonçada, sem atrativos físicos, com dois filhos do primeiro casamento e sem o glamour da “princesa do povo”. Contra tudo e contra todos, foi ela quem roubou o coração do príncipe, mesmo que aparentemente não tivesse nenhum dos dotes de beleza, simpatia e delicadeza tão evidentes na princesa Diana.
A imprensa e o povo inglês jamais a perdoarão por ocupar o lugar da icônica Lady Di. Bruxa, aliás, foi dos apelidos mais leves que recebeu dos tabloides. Entretanto, já se passaram mais de 28 anos do seu casamento com o atual Rei Charles II, e parece (como várias vezes disse meu pai) que ela sempre foi a verdadeira princesa, sendo sua antecessora uma ocupante temporária. Pelo menos ao olhos de Charles.
Acho que esta é uma história de amor real (pun intended) que desafiou convenções, bloqueios legais, a imprensa, a opinião pública e a própria realeza britânica. Camilla deve ser a versão mais clara na vida real da Gata Borralheira, a mulher comum, sem beleza fulgurante que rompeu todas as amarras e fisgou o coração do príncipe.
Isso me faz recordar uma conversa com Alfredão, psicanalista, que me dizia que a história humana se iniciou quando dois antropoides observavam duas fêmeas limpando a carne de um animal à beira do rio. Um deles aponta para uma delas e diz “Quero aquela!!”, ao que seu amigo pergunta “Por quê?”, recebendo como resposta uma cara de espanto e a frase “Não sei…”
Charles escolheu Camilla para estar ao seu lado até a morte e lutou contra todas as convenções para ter a mulher que desejava. Talvez se fossem a ele perguntadas as razões de sua escolha por Camilla teria a mesma resposta dos antropoides à beira do rio e, apenas por isso, podemos dizer que esta é uma história de amor. Apesar de compreender o culto que se faz à Diana, pela sua imagem e seu fim trágico, eu sempre tive pelo temperamento reservado e pelo pudor de Camilla um grande respeito, e hoje até uma grande admiração.
Como Duquesa da Cornualha, Camilla auxilia Charles em suas responsabilidades como representante do Estado. Ela é financiadora e presidente de muitas organizações de beneficência, atuando para despertar conscientização em áreas como a osteoporose, abuso sexual e alfabetização.