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Velhos

Muitos dos meus conterrâneos e contemporâneos, nascidos – ou que viveram a infância – durante a ditadura militar brutal que nos acometeu, se tornaram reacionários patéticos e subservientes ao imperialismo. Uma boa parte ainda exalta o autoritarismo da direita e os golpes contra a democracia que ocorreram em um passado não muito distante. Alguns deles hoje são auto exilados no exterior, e justificam o abandono do Brasil dizendo que viver fora do país sempre foi “o sonho dourado da sua juventude”.

Em verdade, esta fuga ocorreu porque não suportam o cheiro da brasilidade e o jeito do nosso povo. Doentes de xenofilia, amam tudo que não é Brasil, veneram a cultura branca europeia e amam sua história repleta de violência colonizadora. Mais ainda, desprezam tudo o que representa nosso povo e nossa cultura e odeiam tudo que é nosso: a música, as peles escuras, o samba, as artes, os livros. Afinal, para tudo isso existe uma versão melhor, mais limpa, mais sofisticada e mais nobre na América do Norte ou no velho mundo.

Tamanho é o nojo que sentem do que aqui deixaram que a eles mais vale serem cidadãos de segunda classe no exterior do que se olhar no espelho e enxergar um brasileiro na terra em que nasceram. Distantes daqui, aplaudem a Lava Jato e debocham do pleito justo da Venezuela sobre seu território histórico. Por certo fariam o mesmo para proteger as “Falklands” das reivindicações abusivas dos argentinos sobre a soberania das ilhas já que, como nós, estes não passam de sul-americanos grotescos e ignorantes.

Exaltam figuras execráveis como Bolsonaro, Moro e Dalanhol, três notórios meliantes despudorados, que por pouco não destruíram por completo a soberania deste país, vendendo nossa dignidade e nossas riquezas à sanha colonialista dos emissários do Império. Tratam Lula com epítetos maldosos, injustos e covardes, insistindo em fake news há muito derrubadas, mas vomitando a cada frase o preconceito de classe que jamais lhes permitiu aceitar um nordestino oriundo da classe operária como supremo mandatário do seu país. “Burro”, “nove dedos”, “cachaceiro” é como expressam seu despeito, revelando que as justificativas para odiar o presidente descrevem muito mais a si mesmos do que ao próprio Lula.

Minha geração é composta por velhacos ranzinzas, ressentidos, egoístas e conservadores. Falsos puritanos, defensores das ditaduras, apoiadores de Israel, violentos e antidemocráticos. Os anos de chumbo não marcaram em suas almas qualquer lição duradoura de valor, e sequer a velhice os ensinou a esconder seus preconceitos mais infames. Por fim, não me venham dizer que “no meu tempo é que era bom“, pois se a minha época juvenil produziu tantos velhos de camisa da CBF e tantas senhoras de laquê com palavras de ordem racistas ela não pode ter sido boa.

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Constrangimentos futuros

– Papai
– Sim filho…
– Eu estava olhando essas fotos de muitos anos atrás no seu computador…
– Sim….
– Achei essas aqui, muito bonitas. Você estava me segurando no colo com a camisa da CBF. Era jogo da seleção?
Arram, bem, não… era uma outra coisa.
– Vejo um cartaz engraçado escrito atrás: “Somos todos Cu…“, mas não aparece o resto.
– Ahhh, isso é uma bobagem. Eu nem me lembrava mais. Coisas da juventude.
– Tem essa foto aqui que aparece “Adeus querida“, era a despedida de alguém?
– Ora meu filho…. é que, veja bem… naquela época lá em casa todo mundo assistia a Globo e era difícil ter uma informação melhor. A internet recém tinha começado. A gente acreditou em muita coisa que não devia, até em Triplex e pedalinho.
– Triplex? Pedalinho???
– Sim, outra hora te explico.
– Papai…. essas fotos… essas imagens…. essas camiseta e esse pato amarelo aqui atrás. Isso tem a ver com o “Golpe de 2016”?
– Pera lá…. calma aí filho. Não foi “golpe”, foi impeach….
– Mas pai, a minha professora de história disse que…
– Maldita professora!!! Maldita escola!!! Tinha mais é que ter votado o “Escola sem Partido” quando tivemos chance com Temer!!!!
– Papai!!! Você foi à rua pra derrubar Dilma? Pelo Temer?
– Sim!!! E bati panela!!! E votei no Aécio, mas depois que tudo foi descoberto, desvotei; e chamava Bolsonaro de “mito”!!!! Sim, eu achava Gentili engraçado!!! Por que? Vai me criticar, seu pirralho??? Ahhh, eu prefiro um filho morto que um filho de esquerda!!!
– ……..
– Filho, vem cá. Volta aqui, deixa eu explicar. Não é nada disso que você está pensando. E não dê ouvidos pra tua mãe, ela é outra maluca!!!

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Complô

sergio-moro-temer - cunha

O PT é vítima de um complô?

Não exatamente. É vitima apenas de um golpe jurídico-midiático unindo Globo e PIG de um lado e o braço jurídico do PSDB do outro através da justiça seletiva do Sr Moro. Mas vítimas nunca são sujeitos, são sempre objetos. Por isso o PT não é vítima, mas elemento deflagrador das transformações necessárias que elevaram o país à condição de nação protagonista. Cometeu inúmeros erros e pagará por eles, assim como recebeu o devido reconhecimento por acabar com a fome no país e resgatar milhões da miséria.

Vítima? Negativo… o PT foi responsável pela grande transformação política que este pais atravessou. Os negros na Universidade e os pobres que podem sonhar jamais esquecerão isso. As Jéssicas de todos os cantos deste país estão nas ruas e vão mudar a história do Brasil.

Neste episódio todos nós fomos derrotados. O golpe não é a tentativa de impeachment; ele é só o epílogo de uma ópera bufa patrocinada pela parte mais anacrônica e alienada do país, aquela que despreza os avanços no Brasil, os mesmos que o mundo inteiro exalta. O golpe foi antes; ocorreu a partir da paralisação do congresso e a inércia para retirar Cunha. Quase dois anos sem nada, apenas discutindo as tentativas do PIG em desestabilizar o PT, por medo de Lula. Foi a pior estratégia da história política do Brasil.

A parte boa foi a gigantesca manifestação popular de artistas, Universidades, organizações, movimentos sociais e do povo contra um golpe abjeto midiático-jurídico. Isso, sim, foi bonito de ver, em especial quando comparamos com os espancamentos e o ódio incontido da turma de lá.

Aí foi onde surgiu a parte sã do Brasil, a porção que defendeu a reconquista da democracia. Por isso, pela mobilização em nome do estado democrático de direito, valeu passar por toda esta provação.

Resta saber o que acontecerá com o Brasil sem o PMDB. Não terá toda essa dor e o martírio promovido pelos golpistas servido para alguma coisa a mais do que apenas aumentar a venda de camisetas da impoluta CBF?

Eu creio que o expurgo do PMDB pode ter sido o melhor que aconteceu. Agora Dilma estará desimpedida e poderá governar sem esse peso.

Não, na verdade o melhor que acontecerá vai ser o firme compromisso do país com a democracia. A liderança de Lula numa possível corrida presidencial mostra que o povo não aceita o golpe e vai lutar até a última gota de suor para impedi-lo. Os olhos do mundo inteiro se voltam para o Brasil. Não podemos falhar, caso contrário mergulharemos em uma espiral de descrédito e desesperança.

Não vai ter golpe, vai ter luta.

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