
Escrever significa marcar com um cinzel, “traçar uma linha, marcar, assinalar, gravar, marcar com cunho”. Toda escrita fere, marca, risca, separa. Escrever significa deixar no mundo um pedaço de si, um sinal de sua passagem. Por outro lado, também faz todo o sentido olhar para a escrita como um abraço que se abre em direção ao outro. Para quem escreve, usando as letras como um lenitivo manuscrito de suas dores, a leitura por outra alma solidária e atenta é um acréscimo, mas igualmente um bálsamo que alivia o sofrimento de quem grita em solidão.
Entretanto, a escrita é uma forma de expressão que suplanta a necessidade de ser lido. Mais do que uma forma de comunicação, ela é um modo de expressão, distinto da voz, do cinema, da música ou do teatro. Escrever extrai do sujeito o sumo mais refinado de seus lamentos, aquilo que oferece sentido e direção à sua luta. Desta forma, os cadernos de poesia da velha senhora, os diários da adolescente, os contos eróticos do senhor ranzinza são válvulas de escape para sua verdadeira essência. Não são peças para simples leitura, mas para o autoconhecimento. Não importa que tenham sido por tantos anos escondidos no fundo de uma gaveta, infensos ao olhar de qualquer curioso; eles ainda representam o que de mais verdadeiro sempre habitou os escrevinhadores.
A partir de um vídeo da atriz Denise Fraga e uma conversa com Giane Flora
