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Cócoras

Há exatos 35 anos iniciei a atender partos em posição vertical no hospital onde fiz residência. A reação dos colegas variava entre o escárnio debochado e a aversão explícita. As explicações que davam na época são usadas até hoje: “civilizadas são diferentes”, “só índias podem/aguentam”, “o períneo enfraqueceu pela vida moderna”, “mulher de cidade não fica acocorada e não sobe em coqueiro”, etc. Nenhuma dessas afirmações se baseia em evidências, mas ainda assim o parto continua sendo tratado da mesma maneira.

Trinta e cinco anos se passaram e o parto padrão em nossas maternidades – públicas e privadas – continua sendo nas posições que favorecem médicos e instituições, mas são profundamente inadequadas para mães e bebês. O poder é (ainda) mais importante do que as evidências.

“A história é geralmente dura com os covardes, mesmo quando poderosos, e via de regra generosa com os corajosos e ousados, mesmo quando vítimas daqueles a quem denunciaram”

Sergei Kalikowski, “Piratas do Gulag”, Ed Printemps, pag 135

Veja aqui o resumo mais recente sobre posições verticais no parto:

Texto de Gail Hart:

BIRTH TOPIC: WOW!

So… here’s a nice study of birth position. 100 women were randomly assigned to birth in lithotomy position – supine (on their backs) and 100 were delivered in the squatting position.

Look at the results:

1. Second and third degree perineal tears occurred in 9% of the lithotomy group, but none in the squatting group.

2. Forceps for delivery was twice as high in the lithotomy (24%) as the squatting group (11%)

3. There were two cases of shoulder dystocia in the lithotomy group, but none in the squatting group.

4. There were no cases of retained placenta in the squatting group, but 4% of the women supine had retained placenta and 1% had postpartum hemorrhage of more than 500cc due to uterine atony.

“”There was no significant difference in the apgar scores, foetal heart rate patterns or requirement of neonatal resuscitation.””

So, wow, that’s a heck of a lot of maternal benefit simply by changing to a more physiological delivery position. It is time to assign the Lithotomy Position to the Dustbin of History! Indeed, it is long past time!

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Mitos ruidosos

Mitos que caem ruidosamente.

É curioso como o surgimento desses mitos médicos sempre coincidem com benefícios e privilégios para os setores que detém o poder. O mito da “segurança” superior da cesariana em várias circunstâncias (gestação a termo, cesariana anterior, pélvicos, gemelares) só consegue prosperar e florescer porque beneficia médicos e instituições. As vantagens do parto vaginal, em contrapartida, não conseguem se estabelecer com facilidade exatamente pela mesma razão: o parto vaginal agride o desejo e a própria formação tecnicista dos médicos.

Para a atenção a um parto múltiplas habilidades são requeridas, enquanto para uma cesariana bastam as qualidades técnicas. Mas, como os profissionais médicos detém o poder autoritativo, as evidências só produzem diferença quando reforçam este poder, e não quando se contrapõe a ele.

Veja aqui o estudo que demonstra a segurança de provas de trabalho de parto para gestantes com 3 ou mais cesarianas.

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