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Ocasio Sanders

Não quero ser estraga prazeres (ou empata ph*da) mas o entusiasmo que boa parcela da esquerda internacional tem com Bernie Sanders e Alexandria Ocasio-Cortez tem o mesmo aroma de esperança frustrada que o mundo civilizado tinha com Obama. Este, ao fim e ao cabo, sempre se comportou como um Darth (in)Vader para tantos países, levando morte e miséria para milhões por onde o império derrama seu sal. Obama apenas confirmou o papel secundário dos mandatários americanos diante do poder do “deep state“: forças armadas e Wall Street. O apoio ao golpe americano na Venezuela soterrou minhas esperanças em Bernie e a postura de “Estrela da esquerda cirandeira” de Alexandria me faz perder o entusiasmo. Tomara que eu esteja errado

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Vida de Médico

A expectativa de vida dos médicos é muito menor do que a população em geral. Para homens 70 anos, para mulheres menos ainda. Câncer é uma das principais causas. Por que esta profissão é uma escolha mortal?

O estilo de vida dos médicos é profundamente doentio. A luta por vaidades, dinheiro, posição social, domínio, “cargo”. Excesso de trabalho associada a uma imagem de infalibilidade. Medo dos processos, da culpabilização, da humilhação pública pelas redes sociais, medo de perder o status, de perder ganhos. Medo dos chefes de hospital, medo de perseguições no ambiente de trabalho. Medo dos conselhos, via de regra anacrônicos e corporativistas ao extremo.

Raiva dos calotes, dos planos de saúde, das glosas. Raiva dos pacientes que nos desafiam, dos colegas maldosos, da enfermeira que boicota seu trabalho, da burocrata do hospital que não entende sua conduta.

Frustração por ter sido um pai ausente. Pior ainda, uma mãe relapsa com seus filhos. Depressão por um paciente que morreu e as acusações descabidas de uma família envolta em dor. Tristeza por não conseguir salvar quem se queria. Mágoa pela ingratidão de alguns pacientes. Ódio da falta de material, pela super lotação, pela sobrecarga de trabalho, pelo dilema entre atender rápido ou no tempo correto, deixando a fila se avolumar.

Angústia pelo porvir. Pelos filhos que mal viu, pela mulher que vai deixá-lo, pelo marido que vai encontrar outra, pelos pacientes que nunca mais voltaram, por uma fofoca que andam dizendo por aí, pela mentira absurda sobre um caso que atendeu, por ter deixado um sinal claro passar despercebido. Pelo erros cometidos, pelas falhas das quais se envergonha, pelos esquecimentos, pelos lapsos, por não lembrar o nome da paciente de tantos anos.

Pela falta de esperança de que vai melhorar, pela medicina capitalista e insensível, pelo excesso de drogas, pelo buraco na alma onde se jogam remédios, pelo excesso de exames mentirosos, pelas práticas indecentes, pelo mercantilismo, pelas cirurgias desnecessárias, pelo anacronismo dos tratamentos, pela coisificação dos pacientes, pela objetualização de seus corpos, pela pressão da indústria, pela traição dos colegas, pela falta brutal de reconhecimento pelo esforço.

E…. mesmo assim é preciso seguir. Para muitos médicos o passo em frente é apenas por encontrarem no meio de tantos escombros a chama diminuta que um dia, nos idos da infância, os fez sonhar em dedicar a vida no trabalho de ajudar.

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Frustração e negação

frustacao

“É comum acreditar que um parto será “lindo” na dependência do que desejarmos. A prática nos mostra que, mesmo acreditando na importância dos desejos e projeções maternas, eles não são suficientes para garantir o destino de um nascimento. Parto é algo que acontece entre as orelhas, de uma forma subjetiva e única. Sua manifestação se encontra alicerçada no inconsciente, como qualquer outra manifestação da sexualidade humana. Assim, não há como se valer dos desejos expressos sem levar em consideração o universo de sensações, memórias da pele, lembranças, frases, marcas, sentimentos, sons, ruídos, luzes e cores que constituem nossa arquitetura psíquica. Só o que podemos fazer diante das demandas por experiências criativas e enriquecedoras é não criar falsas expectativas ou garantias ilusórias de um parto maravilhoso. Nem todos podem passar pelo parto como desejam: ele é um projeto que se consolida durante toda uma vida.

Estar preparado para as frustrações é sinal de maturidade e uma condição essencial para quem deseja se aventurar no campo da maternidade. Auxiliar na construção de uma experiência positiva e realista é dever de todos que se dedicam a acompanhar esta jornada.

É preferível se permitir frustrar por um não-parto do que criar uma ilusão de felicidade, a máscara mentirosa do não entristecer. Eu entendo quando se diz “não permitir que a natural frustração por um projeto que não vingou supere a alegria de um nascimento“. Isso sim é colocar as coisas em perspectiva, e estou de pleno acordo. Por outro lado eu desconfio muito quando pessoas negam suas dores. Por exemplo, quando mulheres se separam e me dizem que estão “felizes” ou que não sentem “nenhuma frustração”. O nome disso é negação, e ela não ajuda a superar os traumas e quedas. Assumir (e curtir!!!) suas tristezas é fundamental para a cura.

Um caso de cesariana bem indicada nos deixa tranquilos quanto à indicação cirúrgica, mas não significa um antídoto mágico contra as frustrações (dos pacientes e nossas). Que possamos vivê-las com a intensidade necessária para cada caso e cada sujeito, para que a recuperação seja a mais completa possível.”

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