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Consensos

“Todos na sala discordaram dele, e mesmo assim ele se negou a reconhecer que estava errado. Fez isso porque escolheu se manter ignorante”.

Vamos ponderar que, dizer que alguém está errado apenas porque 4 ou 5 pessoas (ou mesmo 500) afirmaram o contrário e refutaram as provas apresentadas, não é um bom argumento. Não se pode aceitar que a verdade seja decidida por votação. “A Terra é plana ou esférica? Não sei, vamos votar?” ou então “Existe (ou não) aquecimento antropogênico porque a maioria dos cientistas concorda”. Isso, para a ciência séria, tem pouco valor. Quando Copérnico anunciou sua teoria sobre o heliocentrismo, muito mais do que 5 ou 6 de seus pares afirmaram que ele estava errado. Com Galileu ocorreu o mesmo, e por isso mesmo foi até julgado e condenado. Copérnico e Galileu seriam, para suas épocas, “negacionistas do geocentrismo”?

Não apenas eles, este é um mal que acomete a quase todos os gênios da humanidade: o isolamento e a incompreensão. Poderia citar milhares de outros exemplos de pensadores como Freud, Espinoza, Nietzsche, Marx, entre tantos que sofreram rechaço por parte da imensa maioria de seus colegas em seu tempo, mas que apesar da solidão produzida por suas ideias, carregavam a verdade em suas ideias. Isso prova a todos nós o quanto a verdade não é democrática; em verdade é poderíamos dizer que ela é “aristocrática” e “meritocrática”. Nietzsche, inclusive, afirmava que o verdadeiro gênio só teria sua obra reconhecida um século após a sua morte. Em vida, seria fatalmente maltratado, desprezado e incompreendido. Ele foi a prova de suas próprias ideias.

Certa vez Albert Einstein recebeu um manifesto assinado por inúmeros cientistas reunidos em um congresso, o qual, de maneira enfática, refutava uma de suas teses. Quando viu o número de assinaturas, ele comentou: “Meu Deus, mas para que tantos? Bastaria apenas um, munido de bons argumentos”. Ou seja: o número de pessoas que discorda de você é irrelevante; os argumentos que ela traz ao debate é que são os elementos essenciais.

Além disso, as pessoas não “escolhem se manter ignorantes”; elas apenas não conseguem enxergar o mundo por uma perspectiva diversa daquela que lhes oferece uma explicação segura e confortável do mundo. O medo delas é trocar aquilo que lhes garante uma compreensão mais coerente do universo e que lhes oferece mais segurança (que pode ser qualquer coisa, como a crença em Deus ou a descrença num princípio criador), por um salto no escuro, que lhes deixa com o medo e as incertezas de um novo paradigma.

Não tenha medo de carregar uma verdade solitariamente, mesmo quando muitos a contestam. Esteja sempre aberto a mudar sua posição e transformar o modo como enxerga o mundo, mas não se deixe atemorizar pelas falsas unanimidades. A verdade não é amiga da popularidade; muitas verdades que hoje nos abrem portas para o conhecimento foram, no seu tempo de despertar, tratadas como anátemas perigosos ou tolices inaceitáveis. 
 

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Olavão

Muitos chamam Olavão de burro, ignorante e idiota. Acusam-no de ser um embusteiro e um farsante. Acho isso bastante errado. Olavo de Carvalho escrevia muito bem – mesmo seus críticos admitem – e tinha cultura e erudição incomuns. Leu muito mais autores clássicos do que 99% dos seus críticos.

Burrice e ignorância vem da falta de conhecimento e de informação, o que não é o caso dele. Olavo tinha outros perversão do saber, um conhecimento e uma erudição a serviço de ideias fixas, controladas por uma personalidade paranoica. Isso não é burrice, é o uso doentio do conhencimento. Sua cultura era uma ferramenta de guerra, uma arma para destruir, não para iluminar. Mas, assim como inumeros outros personagens da história, está longe de ter sido um sujeito ignorante.

Agora Olavão morreu, ainda jovem (mais jovem que Lula, por exemplo). Não há como negar a importância de Olavo de Carvalho no pensamento conservador no Brasil e não se trata de execrá-lo (muito menos exaltá-lo) em sua morte. A mim interessa mais entender porque um sujeito como ele fez tanto sucesso. A extensão e o significado de suas ideias no pensamento de uma parcela da população é algo que precisa ser entendido. Conheci alguns de seus seguidores e vejo o quanto de fascinação ele exercia sobre essas pessoas.

Olavo deixa uma importante lição. Uma não, centenas. Um sujeito que elege um presidente pela força de suas ideias tem muito a ensinar. Se a gente não prestar atenção em Olavão, suas estratégias e a sedução que exerceu sobre milhões de pessoas, seremos obrigados a repetir o drama de sua influência.

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