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Empatia

Lembrei agora que há poucas semanas ativistas indignados(as) queriam colocar nas masmorras um sequelado cerebral que se masturbava em público. Como não existe um movimento forte de apoio aos doentes mentais ele foi massacrado sem perdão nas redes sociais. “Crime hediondo”, “pena de morte” e “prisão perpétua” foram usados para descrever o ato e punição merecida para o crime de espalhar sêmen corrosivo. Seu pênis foi comparado a uma arma apontada contra a cabeça de suas vítimas. Toleramos esses exageros em função de nossa culpa patriarcal atávica com relação às mulheres.

Defender a “moderação” nos linchamentos é visto como um ato de condescendência com o crime. Triste realidade.

Quanto a soltar o homem após o flagrante o juiz agiu certo diante da lei, pelo menos na opinião de muitos juristas. Talvez tenha faltado bom senso, todavia, o massacre foi sem dúvida absurdo e desproporcional. Faltou empatia com o outro lado da história por parte de quem exige isso todos os dias.

A solidariedade com as vitimas não teve uma contrapartida de compreensão com a situação dramática da vida do agressor e sua doença. O rapaz acabou pagando por ser homem e doente em uma sociedade que não perdoa mais nenhum destes crimes.

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Pornografia

Acho que vocês estão colocando peso demais na pornografia, como se os homens se “viciassem” em pornografia e, como consequência, tal adição pudesse trazer problemas sexuais para eles e suas parceiras. Não acredito nessa possibilidade. Pornografia sempre existiu, desde que houve corpos que se interditaram. As ruínas de Pompeia são cheias de pornografia nas paredes. Na minha juventude havia os desenhos de Carlos Zéfiro (obras de arte). Pornografia não é causa de nada, é consequência. Quanto mais constrição sexual houver em uma determinada cultura mais a pornografia se torna uma válvula de escape necessária.

A estética das mulheres no filmes XXX nunca foi essa das “bombadas”, a não ser que tenha modificado muito nos últimos anos. Todas as grandes e famosas atrizes são mulheres de corpos redondos. Não sei de onde tiraram que esse modelo do carnaval vem da pornografia.

Aliás, a indústria pornô não precisa sequer ser combatida pois está em rápido e vertiginoso declínio. Mas o mal da pornografia não é para os homens (e suas parceiras), mas para as atrizes abusadas e tratadas como lixo. Há inclusive um ótimo documentário sobre heróis aposentados da indústria pornográfica no Netflix. Muito bem feito, inclusive.

Essa história moderna de que os homens se viciam em pornografia lembra as histórias da “cegueira que se segue à masturbação“. Não faz sentido, e serve mais como moralismo do que o enfrentamento de um verdadeiro problema. Eu acredito ser possível que existam meninos e meninas viciados em pornô, mas não se pode acreditar que o fator externo é o culpado por tais distúrbios, quando na verdade o sexo (o álcool, o crack, a maconha, a comida, a heroína) apenas ocupa um lugar que precisa ser preenchido em uma alma carente.

E quanto à demanda para que as mulheres se adaptem a um padrão de beleza irreal (e eterno), quando é que na história desta espécie não foi assim? Vou mais longe: acho que nunca deixará de sê-lo, pois que não se trata de um valor cultural, mas da essência da estrutura sexual feminina. O caminhar da humanidade vai equalizar essas demandas e não qualquer tipo de proibição. A busca da perfeição deixará de ser tão massacrante e aviltante para as mulheres, mas nunca cessará de existir.

É óbvio que um sujeito que assiste pornografia tem mais chance de ter impotência, mas de novo a pornografia é a CONSEQUÊNCIA e não a causa. A pornografia é o Porto Seguro do prazer!!!! Você transa com quem quiser, com a mulher mais linda (ou homem) sem risco de DST, gestação indesejada e (melhor ainda) sem risco de rejeição!!!!! É óbvio que os tímidos e inseguros vão recorrer a este lugar, e é óbvio que serão os MESMOS que terão falhas ou crises quando estiverem diante de uma mulher (ou homem) de verdade!!!

Mais uma vez os articulistas desses estudos confundem causa com consequência, e minha suspeita é que são convencidos(as) a isso por moralismo. A causa da impotência é intra psíquica e a sua consequência é comportamental: o consumo de….. (coloque aqui a adição que mais se adapta ao sujeito), e não o contrário.

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Abusadores

Tivemos recentemente uma campanha contra os “tarados” urbanos que importunam as pessoas. Alguns posts apelaram para soluções simplistas como a brutalidade e até para “linchamentos”. Isto é: combater machismo com mais machismo e força bruta.  

E veja bem: masturbar-se em ônibus ou na rua é um incômodo, podemos considerar ofensivo e inadequado, até mesmo uma “violência” moral, mas em nada semelhante à agressão ou ao estupro. Atos como estes precisam ser coibidos dentro da lei e da justiça. Se as leis são brandas ou ineficientes que sejam mudadas, mas não se pode apelar para condenações oportunistas diante da emergência de um escândalo público. Ponto.  

Entretanto, é evidente que os sujeitos que fazem isso em público são doentes, compulsivos, incapazes de controlar adequadamente suas ações mesmo diante das ameaças de violência. Eu vejo uma injustiça ao tratar esses sujeitos como depravados do mesmo tipo que assistia o julgamento feroz e cruel contra os alcoolistas no meu tempo de Pronto Socorro. “Se você quiser se controlar é fácil, mas você bebe porque é um vagabundo“. Esse argumento aparecia para qualquer compulsão, das drogas pesadas ao cigarro, mas era usada até para a homossexualidade, lembram? Não faz tanto tempo assim…  

Se hoje podemos chamar os alcoolistas, as cleptomaníacas e as pacientes com psicoses puerperais de doentes, entendendo que estas pessoas precisam de ajuda psicológica e às vezes médica (e não de porrada), porque deveria ser diferente com os masturbadores públicos??? Por que é tão difícil entender a enfermidade a que são submetidos?   Infelizmente eu entendo que qualquer tentativa de analisar racionalmente esta questão significa que achamos que a masturbação pública é “tolerável“, que não merece punição ou que “não causa dano algum“. Maldito maniqueísmo.

Em verdade tudo que desejamos é que TODOS possam ser julgados com um pouco mais de humanidade e compreensão.

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