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Monstros

É claro que não gostei da indicação do novo Ministro da Saúde, o Dr. Nelson Teich, e tenho várias queixas à sua postura ética diante dos dilemas da medicina. Entretanto, a publicação de uma entrevista com a filha de uma ex paciente sua – que faleceu de câncer – chamando-o de “monstro” é a pior forma de jornalismo que existe. Oportunista, desonesta e sensacionalista. A imprensa independente deveria ser o exemplo de ética jornalística e não repetir o erros do jornalismo corporativo.

Esse tipo de entrevista com familiares de pacientes terminais é pura desonestidade. A morte de um ente querido – e as emoções que a envolvem – nos fazem perder a noção adequada da realidade. Os médicos que lidam com essas situações – em especial os oncologistas e médicos de UTI – jamais dirão as palavras que os pacientes querem ouvir. Se ele for positivo e otimista será acusado de “enganar a família com falsas esperanças”. Se ele disser o que está ocorrendo com frieza e realismo será chamado de “monstro insensível”. Minha experiência com essa questão é de que não há saída. O médico pode controlar o que vai falar em uma situação trágica como a morte de um paciente, mas jamais poderá controlar como o familiar recebe a mensagem e nem como vai reagir diante de seus próprios sentimentos diante dessa perda.

Em momentos de dor o sentimento preponderante é a culpa. Culpa por não ter sido bom marido, bom filho, boa esposa, bom amigo, etc. Observe: as pessoas mais agressivas e fora de controle num enterro são os parentes mais distantes e com a relação mais conflituosa com o falecido. São essas pessoas que frequentemente desviam suas culpas – reais ou imaginárias – para a figura do médico, imaginando assim diminuir a sua carga. Por essa razão as declarações de parentes de pacientes são envolvidas em paixões e carecem de racionalidade e valor absoluto. Não há dúvidas que existem falhas, por vezes grosseiras, por parte dos médicos atendentes, mas essa culpa jamais será estabelecida escutando apenas a voz de uma familiar diretamente envolvida.

Publicar esses depoimento carregados de mágoa é desonesto, um ataque baixo e que demonstra uma falha ética do veículo de imprensa.

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