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Dinheiro e(m) excesso

As pessoas que vivem fazendo textões exaltando a possibilidade do dinheiro de trazer felicidade e paz de espírito, romantizando e exaltando as coisas que o dinheiro pode comprar, deveriam conhecer a história do Thiago Brennand, famoso playboy pernambucano que foi preso hoje em Dubai. Sua longa história de abusos é tão extensa quanto a lista de pessoas que se afastaram dele, em especial sua própria família. Seu dinheiro atrai interesseiros(as) e oportunistas, mas afasta aqueles que o conhecem em profundidade.

Uma das irmãs, conhecida nutricionista da cidade, relatou que tanto ela quanto seus 3 outros irmãos não tem nenhum contato com Thiago há 20 anos. Gente, 20 anos sem falar com os próprios irmãos. Que riqueza é essa que destrói os laços familiares?

Eu não tenho interesse algum em desculpar as inúmeras atrocidades que este rapaz cometeu. Espero mesmo que pague suas dívidas e que possa reavaliar sua trajetória nesse mundo. Por outro lado, penso que este ódio e o desprezo imenso que tem pelos outros – em especial sua família – devem estar relacionados a feridas ainda abertas, traumas muito precoces na sua vida afetiva, desamores dolorosos que foram potencializados pela sensação de impunidade e onipotência que o dinheiro em excesso é capaz de produzir em qualquer um. Dinheiro, assim como a beleza e o talento, são fardos pesados para carregar. Aliás, o próprio nazareno já nos alertava que é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um “burguês” (desculpe, preciso deixar claro) entrar no Reino dos Céus. E por quê? Ora, porque somos egoístas por natureza, e sem uma castração adequada em nossa propensão egocêntrica, acabamos acreditando mesmo que somos o centro do mundo.

O que este rapaz expõe como comportamento narcisista, violento, misógino, racista, homofóbico e aporofóbico (desprezo pelos pobres) nada mais é do que a visão crua das feridas afetivas que insidiosamente destroem seu espírito. Ele fez muitas vítimas pelo seu comportamento, mas por certo que ele também é mais uma delas.

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O Bagaceiro Reaça

Depois de velho eu fui obrigado a testemunhar o nascimento de um personagem que poderia ter sido descrito por Nelson Rodrigues: o “bagaceiro reaça”.

Ele é pobre, muitas vezes desempregado e faz bicos ocasionais. Vive da pensão da mãe, com quem mora, mesmo tendo mais de 40 anos. Já teve algumas mulheres, mas abandonou a todas. É grosso, machista, misógino e, mesmo tendo aquela pele mais escura adora fazer piadas racistas (jura que é branco e que seu avô era alemão), porque são “brincadeiras entre amigos”.

É bolsonarista raiz. Mesmo já tendo várias entradas na chefatura por pequenos delitos – como punga, furto, violência doméstica e desordem – acredita que bandido bom é “bandido morto”. Adora a polícia batendo – nos outros – e faz o mesmo com os filhos pequenos. Acha que o comunismo é coisa do diabo. Vai na Igreja, paga dízimo quando tem algum, faz promessa prá Santo, toma passe no terreiro, vota sempre em empresários e gente rica, pois eles sabem como “cuidar de nós”.

Esse personagem apareceu de forma resplandecente nas últimas eleições. A mídia conseguiu convencer esse sujeito de que a sua miséria é fruto de sua falta de ambição ou de fé, e não de uma conjuntura que o maltrata desde o berço. Não há consciência alguma de classe: acredita ser um um ente sem vínculos; o que vale é o “cada um por si”.

A esquerda precisa voltar a falar com esse sujeito. Ele foi entregue para a direita mais atrasada e alienada. Usaram sua frustração para alavancar uma utopia neoliberal que se mostrou fracassada, mas que aqui ainda embala os sonhos de popular através da religião exploradora da fé e da propaganda massiva contra qualquer modelo meramente justo e distributivo.

Acredito que a tarefa da esquerda é ali, no seio do proletariado mais abandonado, para resgatar nestes o sonho de uma sociedade mais equilibrada e justa.

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