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Dinheiro e(m) excesso

As pessoas que vivem fazendo textões exaltando a possibilidade do dinheiro de trazer felicidade e paz de espírito, romantizando e exaltando as coisas que o dinheiro pode comprar, deveriam conhecer a história do Thiago Brennand, famoso playboy pernambucano que foi preso hoje em Dubai. Sua longa história de abusos é tão extensa quanto a lista de pessoas que se afastaram dele, em especial sua própria família. Seu dinheiro atrai interesseiros(as) e oportunistas, mas afasta aqueles que o conhecem em profundidade.

Uma das irmãs, conhecida nutricionista da cidade, relatou que tanto ela quanto seus 3 outros irmãos não tem nenhum contato com Thiago há 20 anos. Gente, 20 anos sem falar com os próprios irmãos. Que riqueza é essa que destrói os laços familiares?

Eu não tenho interesse algum em desculpar as inúmeras atrocidades que este rapaz cometeu. Espero mesmo que pague suas dívidas e que possa reavaliar sua trajetória nesse mundo. Por outro lado, penso que este ódio e o desprezo imenso que tem pelos outros – em especial sua família – devem estar relacionados a feridas ainda abertas, traumas muito precoces na sua vida afetiva, desamores dolorosos que foram potencializados pela sensação de impunidade e onipotência que o dinheiro em excesso é capaz de produzir em qualquer um. Dinheiro, assim como a beleza e o talento, são fardos pesados para carregar. Aliás, o próprio nazareno já nos alertava que é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um “burguês” (desculpe, preciso deixar claro) entrar no Reino dos Céus. E por quê? Ora, porque somos egoístas por natureza, e sem uma castração adequada em nossa propensão egocêntrica, acabamos acreditando mesmo que somos o centro do mundo.

O que este rapaz expõe como comportamento narcisista, violento, misógino, racista, homofóbico e aporofóbico (desprezo pelos pobres) nada mais é do que a visão crua das feridas afetivas que insidiosamente destroem seu espírito. Ele fez muitas vítimas pelo seu comportamento, mas por certo que ele também é mais uma delas.

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Diplomas

Concordo com o com os textos que tentam demonstrar que a aquisição de um diploma – em especial mestrado e doutorado – não garante excelência, apesar de reconhecer que, de certa forma, tais manifestações podem parecer antipáticas e dar a falsa ideia de que os títulos acadêmicos são inúteis. Não, eles não são. Pelo contrário, são fundamentais para o crescimento científico. São aprofundamentos em pontos específicos do conhecimento humano e auxiliam na compreensão de infinitas questões.

O problema é o valor exagerado que se pode dar a eles. Imaginar que um sujeito tenha mais virtudes morais por causa de um título acadêmico é absurdo. Acreditar que esse título lhe dá mais capacidade de resolver questões outras, as quais fogem do escopo de seu estudo, também. Na área médica isso é muito comum. Médicos com formação acadêmica não são melhores (e nem piores) do que aqueles profissionais com formação básica para o atendimento aos pacientes, a não ser na área específica à qual se dedicaram.

O mesmo vai ocorrer no direito, na enfermagem, na sociologia, na filosofia, etc. Na teoria, a formação acadêmica existiria basicamente para formar professores nos cursos superiores, mas hoje se tornou uma extensão do curso superior, e visa gabaritar o sujeito para a realização de concursos.

Quando eu cursei medicina os professores ainda não tinham essa formação. Depois esses cursos foram sendo exigidos, mas a qualidade das aulas não melhorou. A arte de dar aulas é um talento que a formação acadêmica é incapaz de produzir, assim como a o talento para a pintura ou o futebol. Também não é capaz de oferecer curiosidade, cultura abrangente, abertura para o novo, posição crítica diante do mundo e (por certo) não oferece consciência de classe.

Os cursos de mestrado e doutorado oferecem classes de estatística, de teoria da ciência, de pedagogia e muitas outras coisas, além de um funil poderoso para estudar aspectos do conhecimento. Estes sujeitos tornam-se Reis e Rainhas de seus minúsculos castelos, mas por vezes alienam-se da realidade ao redor, criando uma visão unívoca do universo – uma sedução onipresente.

Não esqueçam que as figuras mais nefastas do cenário político atual são doutores em suas áreas, o que não impediu que tratassem esposas por “conges“, além de outras aberrações absurdas e inconsequentes.”

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Feios, sujos e malvados

Feios_sujos_e_malvados

Já se deram conta do drama terrível que atinge o cantor popular que lança um disco e vende 1 milhão de cópias?

Nunca?

Muitas vezes eu penso nesses temas que normalmente não nos tocam, porque parece a nós que estas circunstâncias não são compatíveis com sofrimento de qualquer natureza. Também fico encucado como “a dor de ganhar muito dinheiro“, as “dificuldades de ser bonito demais” ou as “agruras e sofrimentos de ter muito sucesso“.

Sim, penso em tese. Nunca fui agraciado com nenhuma das benesses acima citadas, o que não me impede de tentar entender como as pessoas podem se sentir prisioneiras de suas próprias virtudes e conquistas.

Imagine o homem bonito e suas dificuldades. Estou usando esse exemplo pela distância evidente e óbvia comigo, mas poderia usar a questão das mulheres lindas. A beleza ofusca todos os outros possíveis talentos. Um homem bonito naturalmente obstrui suas outras potenciais capacidades, pois a beleza lhe oferece um acesso fácil aos seus interesses e desejos. O mesmo se pode pensar do dinheiro. Para que estudar, aprofundar-se em temas, tornar-se crítico e inventivo se o dinheiro oferece um “bypass” para qualquer comodidade? Para enfrentar a beleza e o dinheiro e ainda assim tornar-se humilde, culto e interessante há que se transpor barreiras muito complexas e difíceis, principalmente porque elas se opõe à própria natureza humana e a “lei do menor esforço”. Como ter certeza de que a mulher (ou homem) que se acerca, está encantado pela sua figura completa, ou apenas pela luz que emana de sua beleza ou riqueza?

Um músico de sucesso precisa manter o interesse das pessoas, pois o “amor” a ele devotado é embriagante, sedutor e cativante. Porém, tal devoção cobra seu preço, e o cantor cedo percebe que sua obra deixa de lhe pertencer, e passa a ser controlada pela expectativa que os fãs dele fazem. Os admiradores cobram do artista o amor a ele oferecido. “Vais nos agradar e retribuir nosso amor. Caso contrário será uma traição ao nosso carinho graciosamente oferecido, e por isso te odiaremos eternamente”.

Apesar de ser uma pessoa desprovida de talentos posso entender o quão difícil e tenebrosa é esta tarefa. Uma vez jogados no terreno do desejo alheio, como romper as amarras de dependência criadas? Como manter-se livre para criar, produzir, expor e demonstrar sem o peso da concordância e admiração do outro, que em última análise dá a medida do que chamamos sucesso?

Se o Latino resolvesse cantar música erudita, poderia? Seria perdoado? Seria aceito? O Roberto Carlos canta o que deseja ou o que sente que seu público exige dele? Quanta liberdade criativa existe naqueles em quem depositamos tanta expectativa? Paulo Coelho escreve o que quer, ou o que dele se demanda? Uma menina se apaixona mesmo por Justin Bieber, ou pela figura que ele representa? Como poderá ele saber?

Não estaria a verdadeira liberdade reservada apenas aos feios, pobres e desprovidos de excelência? Estes sim, podem escolher um amor sem que ele esteja contaminado pelos interesses, ofuscado pelo brilho fátuo da beleza ou misturado com a sedução dos talentos exuberantes. Só os feiosos tem certeza que o amor que recebem é verdadeiro. Só eles podem estar seguros de que seu amor é “dar algo que não se têm”.

Para os que escrevem, e aí o gancho que eu percebi no cotidiano, nada alivia mais do que decepcionar algumas pessoas. Assim libertos dessa pressão, é possível usufruir, mesmo que de forma limitada e parcial, um pouco de liberdade.

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