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Arte

Eu não entendo absolutamente nada de música, inobstante gostar de ler comentários, resenhas e críticas musicais. Música é arte e arte é objeto de interpretação, que usa de valores culturais misturados com questões absolutamente subjetivas. Percebi também que a explicação da arte – a sua contextualização geográfica, temporal, cultural, etc – me permite entender a obra e o artista, o que humaniza seu trabalho e me torna próximo de suas ideias e propostas. Muito do que existe codificado em uma obra tem a ver com seu tempo, o lugar onde foi feita e os dramas existenciais que permeavam a vida do artista. A respeito disso eu recomendo um livrinho maravilhoso chamado “Uma Recordação de Infância de Leonardo da Vinci” escrito por Sigmund Freud.

Arte é, no meu modesto ver, a produção simbólica que pretende transmitir uma mensagem para alguém. Essa mensagem pode chegar direta através dos sentidos e produzir impacto nas emoções. Nesse conceito, ela se assemelha ao sexo. O sexo mescla elementos universais – os conceitos culturais de sensualidade e beleza – com aqueles elementos subjetivos, ligados ao inconsciente, únicos e pessoais. Uma mulher (ou homem) vai nos atrair por estas vias da mesma forma como uma obra de arte vai nos atingir pelos caminhos do inconsciente.

Dizer “detesto essa cantora” diz muito de quem a odeia tanto quanto descreve características de quem a admira, mas não existe muita razão para que esta afirmação seja levada muito adiante, porque inevitavelmente ela vai esbarrar no muro das “razões não-sabidas” que governam nossas escolhas. Quando chegamos neste estrato do inconsciente, onde a razão não consegue alcançar, podemos usar sem pudor a expressão “gosto não se discute”. Dá mesma forma o amor; onde puder ser explicado já não será amor.

Escrevo isso porque essa semana eu li uma crítica ao novo trabalho de Anitta. Achei curiosa porque parece existir uma tendência de não apenas valorizar os contextos das obras artísticas (a vida pregressa do artista, suas origens, sua luta, a conquista de um lugar ao sol, a família, os amores, as tretas, a exaltação de seus luxos, seus escândalos, etc), mas torná-los tão relevantes a ponto de ocuparem um lugar mais significativo do que a obra em si. O articulista – que é músico – dizia que “é importante entender a beleza histórica e sociológica do samba baiano industrializado do É o Tchan“. Também falava de sua revolta às “críticas direcionadas ao trabalho de artistas nacionais e pelo fato de que uma crítica a alguém que vem das camadas mais populares (gente de origem humilde) não vai mudar a realidade“. Dizia (e aqui percebi seu ponto principal) que “criticar Anitta e Pablo não conquistará mais ouvintes para o seu próprio trabalho e apenas produzirá uma inevitável antipatia“.

Entendo todos esses argumentos, considero-os relevantes e respeitáveis. Todavia, a simples existência de explicações da obra desses artistas pelo viés extra-musical – as vendas, o mercado, a origem humilde, o espaço, o significado cultural – demonstra que a arte que eles fazem é algo profundamente questionável, a ponto de ser necessário buscar em elementos alheios à música uma explicação que justifique a importância que lhes é oferecida. Estas explicações tentam focar no autor, tornando-o mais importante do que sua própria obra, invertendo as polaridades do que significa uma produção artística. Aliás, trata-se de uma tendência marcante nas críticas contemporâneas e ponto central da cultura do cancelamento, onde as ideias e o trabalho de um artista são menos importantes do que aquilo que ELE é – ou o que nos parece ser.

Eu assisti o clipe da Anitta, quase inteiro. Achei sofrível. A música poderia ter sido composta por um robô. Anitta tenta atingir o mercado latino, por claras razões comerciais, mas todos os cantores populares fazem isso desde que tenham pervasividade suficiente para esta empreitada, Não que isso seja errado, mas percebe-se a música mais como um produto de mercado e vendas, e menos como uma expressão artística. O clipe é uma sequência previsível de simulações de posições sexuais, repleto de caras e bocas. Mas eu não entendo de música, e não entendo o mercado fonográfico. Sei apenas que não gostei e talvez isso tenha a ver com elementos subjetivos que sequer eu tenho acesso. Talvez eu seja careta e tenha dificuldade de admitir. É possível que minha rejeição seja porque sou velho e tenha a mente calcificada, mas eu lembro que sou da geração dos anos 60-70, e que esta geração de agora tem muito mais pessoas caretas e moralistas do que na minha época. De qualquer maneira, esta é apenas uma visão bem pessoal, sem qualquer relevância maior.

Também não consigo escutar Pablo Vittar, porque acho que seu falsete é insuportável e desafinado. Todavia, reconheço sua importância para a visibilidade trans (e eu nem sei se ela é trans ou drag), para as comunidades queer e pela sua história de luta por um “lugar ao sol” no cenário musical. E não apenas na arte, mas também em qualquer campo de atividade humana. Porém… como bem disse o articulista, quem ousa criticar estes ícones de origem humilde e orientação sexual não hegemônica sem angariar antipatia imediata e sem ser taxado de preconceituoso?

Porém, quando a questão é a música – seu valor intrínseco e sua relevância como mensagem – eu creio que não podemos permitir que as questões não-musicais assumam prevalência sobre o objeto principal da análise. Todos os elementos contextuais do artista não deveriam ser mais relevantes do que o produto de seu trabalho, caso contrário estaremos subvertendo o elemento primordial da arte.

E vejam, eu concordo com a tese central: a Anitta não é culpada e nossas baterias não deveriam ser direcionadas contra ela, que é apenas um produto numa prateleira de consumo livre; compra quem quer. Cancelar Pablo ou Anitta, ou fazer campanha (como o crítico musical Régis Tadeu faz) me parece muito mais despeito do que rigor estético. Coisa de gente que estufa o peito para dizer que não assiste BBB, como se isso fosse garantia de erudição.

Todavia, o que me chama a atenção – e reconheço minha ignorância no tema – é debater Anitta e Pablo Vittar colocando sua produção musical como elemento secundário, enquanto aceitamos como valor (em demasia, creio) as suas personas artísticas, seja a ascensão social de uma menina de periferia, seja o espaço conquistado por uma artista queer. Suas artes sucumbem diante da mitologia criada ao redor deles. Parece que estamos dizendo: “Quem se importa que a música seja ruim e o clipe uma apelação grosseira? Olha só essa menina pobre brasileira de periferia conquistando o mundo!!!!”

Sobre o flood de votos para a Anitta, ou ser a mais escutada na plataforma Spotify, creio que existem dois elementos a serem levados em consideração:

1- Curiosidade. “Putz, todo mundo está falando, vou ver o que é“. Foi o que me moveu, até porque eu nunca escutei uma música da Anitta e sequer sei qual seu estilo. Essa música “Envolver” é funk?

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2- Pachecada. “Vamos dar uma força para esta brasileira lutadora”. Eu lembro que um jornal de Porto Alegre reverberou uma enquete internacional sobre qual seria o mais belo monumento do mundo. Havia um explícito incentivo para que os brasileiros votassem no Cristo Redentor, não porque considerassem o mais bonito, mas para garantir uma maior visibilidade para as coisas do Brasil e incentivar o turismo. Pois a notícia acabou chegando na cidade com o pitoresco nome de “Anta Gorda”, situada no interior do RS – perto de Guaporé, Dr. Ricardo, Arvorezinha – e houve um movimento para votar na “estátua da Anta”, que fica na entrada da cidade, com o objetivo de exaltar o município. Evidentemente que não ganhou, mas seria engraçado ver a anta ser a escolhida.

PS: no Jornal Nacional eles explicaram que a música foi lançada há 4 meses, mas só depois que o clip foi mostrado – com coreografia(?) criada por Anitta – a música viralizou. Acho que aqui está o segredo: não é uma música; é um trailer de filme soft-porn.

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Meu P* te ama

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Música ao estilo “sertanejo universitário” (o nome mais malandro inventado na história da música) que é onipresente na cultura e toca nas rádios toda hora, fala de 4 assuntos básicos: mulheres que chutam homens que não lhes dão o valor que julgam merecer, baladas, sofrência de corno e bebedeiras. A cafonice das letras é de arrepiar, mas hoje em dia elas estão presentes em todos os ambientes. É quase impossível não escutar. Aqui na cafeteria estou há 15 minutos escutando o DVD do Luan Santanna, que agora definitivamente está assumindo um estilo “melaqüeca“.

Eu não aceito falar em termos de “no meu tempo era melhor”, mas gostaria de escutar alguém que entenda de música me dizer o que aconteceu com o refinamento, a delicadeza, a profundidade das letras, e a sofisticação de melodias nos últimos 30 anos.

Veja só, quando eu era adolescente Chico Buarque era POPULAR. Não precisava ligar a Rádio Cultura para ouvir. Ele ia no programa do Chacrinha e o povo cantava em uníssono suas canções. Caetano, Gil, Tim, Betânia eram artistas do povo, e suas letras estavam na cabeça de todos nós.

O que aconteceu para chegarmos até “Meu pau te ama” e “Eguinha Pocotó”?

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Um pouco de Homeopatia

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Esclarecimentos gerais sobre homeopatia…

Medicamento homeopático não produz sintomas. entretanto, se houver similitude entre o sujeito que o usa e as características do remédio escolhido poderá haver o despertar de sintomas que pertencem à história daquela pessoa. Caso não haja semelhança a homeopatia não passa de água.

A busca do remédio homeopático parte da investigação das múltiplas características físicas, psicológicas, emocionais, familiares e biopatográficas (a história das doenças) e a confrontação destes aspectos subjetivos com a experimentação de milhares de substâncias homeopaticamente estudadas e catalogadas.

Desta forma, homeopatia funciona como música. Se houver sintonia com a melodia, você pode se emocionar, alegrar ou mesmo entristecer. Ela “desperta” sentimentos e emoções se houver conexão frequencial. Por outro lado, se a música não lhe “tocar” de nada adiantará escutar de novo ou aumentar o volume. É a frequência vibracional que produzirá a sintonia. Você precisa ter aquela música dentro de si

Se não houver esta “similitude” a música que você escuta é apenas barulho.

No caso da homeopatia, é tão somente água

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