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Misoneísmo

Existe um preconceito que, apesar de ser bastante prevalente, muitas vezes é escamoteado no discurso cotidiano. Ele se refere às pessoas que produzem uma rejeição ao novo, às novas propostas, ideias, conceitos e perspectivas. A isto chama-se “misoneísmo”, palavra de raiz grega que provém de “mysos” (aversão) e “neos” (novo). Pode ser chamado também de “neofobia”.

Ultimamente eu tenho testemunhado muitas manifestações desta natureza, mas me espanta sempre quando elas surgem de pessoas que se consideram progressistas. Uma das características desse preconceito na área da medicina é a crítica violenta – e até persecutória – contra formas alternativas de pensar e agir com relação a diagnósticos e tratamentos. Estas pessoas – na maioria das vezes integrantes da Academia – gastam um tempo enorme no ataque às medicinas complementares ou mesmo de algumas novidades nos tratamentos de doenças crônicas. Mais do que alertar para a falta de provas consistentes de sua eficácia (quando elas são frágeis ou inexistentes), travestem-se de cruzados da “medicina certa” a atacar os “inimigos” que usam métodos heterodoxos para a cura de seus pacientes.

É curioso este tipo de manifestação porque todos os conhecimentos que hoje consideramos verdades inquestionáveis já foram, em seu tempo de aparição, considerados heresias. Muitos homens de gênio já foram acusados pelos mais variados tribunais, ou condenados à morte por várias formas, apenas por mostrar seu pensamento, o qual diferia da ortodoxia hegemônica de seu tempo. Basta lembrar de Galileu (i pur si muove), de Freud e os ataques que sofreu da Ordem Médica, de Darwin e sua vida reclusa pela violência eclesiástica, entre tantos outros pioneiros para entender que os desafios de enfrentar uma “verdade estabelecida” são tão complexos e sacrificiais quanto absolutamente necessários para o progresso das ideias.

Também é útil lembrar dos inúmeros profissionais da humanização do nascimento no mundo inteiro que lutaram pelos direitos das gestantes e por práticas simples – que hoje são corriqueiras – como a abolição das episiotomias de rotina, presença do pai e/ou do acompanhante, trabalho das doulas, contato pele a pele, amamentação na hora dourada, parto de cócoras, parto domiciliar etc., ações que há poucos anos eram consideradas anátemas e atitudes criminosas, levando muitos destes profissionais ao ostracismo e aos tribunais.

Causa espanto que tal sanha “oficialista” ocorra entre profissionais da saúde que se consideram “humanizados”, os quais se empenham na destruição de linhas de pensamento, filosofias e estratégias de tratamento que são diversas da forma com a qual se associam. Os ataques são inclusive de ordem moral, tentando reforçar a suposta imoralidade dos criadores de uma determinada terapêutica, usando o conhecido “linchamento de reputação”, “ad hominem” e “cancelamentos” de sujeitos “não alinhados”, o que é uma verdadeiro absurdo. Seria como descobrir que Fleming teve uma amante (só um exemplo, nem sei se Fleming um dia foi casado) e abandonou os filhos e, por isso, seria necessário “cancelar” o uso da penicilina.

Lembro bem de uma aula no meu curso de preparação de oficiais, logo após o fim da ditadura, quando um oficial veio nos dar uma “aula” sobre comunismo. Suas palavras iniciais foram “Marx foi um homem muito inteligente, não há como negar, mas foi um péssimo pai de família”. A ideia – que o bolsonarismo elevou à máxima potência – é fazer as versões fantasiosas da moralidade eclipsarem o trabalho, o brilho e a luta de um adversário no campo ideológico.

De certo temos que a necessidade premente de desmerecer as propostas alternativas no campo da saúde demonstram a imensa fragilidade que algumas pessoas têm nas suas crenças sobre a superioridade do modelo hegemônico da medicina intervencionista, medicamentosa, exógena e bioquímica. Sua visão sobre a teleologia da medicina – o sujeito à mercê dos tratamentos médicos e a intervenção drogal e cirúrgica como ferramentas por excelência de cura – não pode ser questionada, e os contraditórios a ela precisam ser violentamente atacados.

Guardadas as proporções, é o mesmo movimento das pessoas que atacam as “formas alternativas de expressão sexual”. Não basta apenas exercer sua sexualidade da forma como deseja; é preciso atacar a ideia de que a sexualidade tem uma gama infinita de manifestações, gozos e prazeres diferentes do padrão social. É preciso destruir as outras formas de encontro como “ameaças” à sexualidade “correta”. Na verdade, esse ataque na maioria das vezes é a tentativa desesperada de destruir as dúvidas que o sujeito nutre sobre sua própria sexualidade, frágil, insegura e cambaleante.

“Segundo o Ministério da Saúde do Brasil as Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) são recursos terapêuticos que buscam a prevenção de doenças e a recuperação da saúde, com ênfase na escuta acolhedora, no desenvolvimento do vínculo terapêutico e na integração do ser humano com o meio ambiente e a sociedade.” Destaco aqui a ênfase no “vínculo terapêutico” e na visão “integrativa” do sujeito, corpo e alma. Esse é o espírito da maioria dessas modalidades que, afastando-se do rigor cartesiano, escapam da concepção de máquina para buscar o tratamento do organismo complexo que adoece.

Nunca tive dúvida alguma que o progresso da medicina só poderia ocorrer através das visões que se distanciassem da “humani corporis fábrica” vesaliana para uma visão do adoecimento que compreenda o ser humano como uma unidade reagente bio, psico, social e espiritual. Portanto, as terapias que buscam esta perspectiva integrativa deveriam ser estimuladas, jamais atacadas, pois é delas que poderá surgir uma nova forma de pensar medicina.

Ainda segundo o Ministério da Saúde, o número de municípios que ofertaram atendimentos individuais em PICS (práticas integrativas e complementares) é de 3.024, estando presente em 100% das capitais. Já houve 2 milhões de atendimentos em UBS, sendo 1 milhão em medicina tradicional chinesa, 85 mil em fitoterapia, 13 mil em homeopatia e 926 mil em outras formas de atenção que ainda não haviam sido catalogadas. A atenção Básica teve 78%. desses atendimentos, mas 18% ocorreram em casos de média complexidade e 4% naqueles de alta complexidade.

Andreas Vesalius

Para concluir, eu creio que atacar as novidades na área da medicina de forma violenta, acusatória e irracional desnuda muito mais os medos e temores de quem faz tais ataques do que as propensas fragilidades dos tratamentos alvos de críticas. Não se faz ciência com o fígado. O verdadeiro cientista é respeitoso com as visões discordantes e está sempre aberto para o que é novo. As certezas, sejam positivas ou negativas, são elementos necessários nas religiões, jamais no espírito científico, o qual se nutre essencialmente da dúvida. Manter o espírito aberto e a cabeça arejada nos oferece uma janela maravilhosa para o descobrimento, a surpresa e a esperança das novidades.

(Capa de “De Humanis Corporis Fabrica” do médico belga Andreas Vesalius, publicado em 1543, considerado um dos livros científicos mais influentes da história da humanidade, em especial pelas suas ilustrações, xilogravuras de altíssima qualidade. Aliás, Andreas Vesalius também foi duramente perseguido por ousar desafiar as ideias correntes e oferecer uma nova forma de abordagem da medicina à humanidade. Ele foi condenado à morte pela Inquisição sob a alegação de que tinha dissecado corpos humanos. Para escapar à fogueira, sua pena foi substituída por uma peregrinação à Jerusalém. Na viagem de volta, adoeceu e morreu na ilha de Zante (ou Zacyn) na então República de Veneza, na costa da Grécia).

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Tesouro

“As comprovações científicas esbarram na questão da subjetividade. Quando se pensa em terapia do sujeito as comprovações de larga escala perdem o sentido. Este, aliás, é o elo que conecta a homeopatia e a psicanálise, duas formas de entender o sofrimento humano de forma endógena, partindo de desacertos da energia vital para aquela e do inconsciente para esta.

A evidência das conexões entre nós psíquicos e sintomas orgânicos – sejam eles grosseiros ou sutis – são fatos cristalinos para quem tem olhos de ver e ouvidos de ouvir. As ligações de causas aparecem nas palavras, nos silêncios entre elas e nas derivações orgânicas superpostas. Como diria Freud, “o que o paciente traz como sintoma é seu verdadeiro tesouro”, e isso deveria nos levar a uma escuta tão respeitosa quanto a que temos diante do sagrado.

A descoberta do significado dos sintomas inscrito na subjetividade do paciente é uma revelação grandiosa, como um portal de entendimento cósmico do destino da natureza.”

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Justicia Adhatoda para Corona virus

O uso homeopático de Justicia Adhatoda não se contrapõe aos cuidados de ISOLAMENTO que estão sendo utilizados em todo o mundo.

Trata-se de um medicamento complementar para ser usado nos quadros gripais leves, sem falta de ar, sem febre alta e sem fadiga extrema – os quais devem ser encaminhados para o hospital. Informe-se com um homeopata de sua região.

Também conhecida como Vasaka, é uma planta de origem asiática cujo nome oficial é Justicia Adhatoda, mas também é comumente conhecidos como “noz Vasaka” ou “Malabar”. É um arbusto perene e altamente ramificado (1,0 a 2,5 mm de altura), com cheiro desagradável e sabor amargo. Possui ramos ascendentes opostos com flores brancas, rosa ou roxas. É uma planta medicinal altamente valiosa usada para tratar resfriado, tosse, asma e tuberculose (Sharma et al., 1992). Sua principal ação é expectorante e antiespasmódico (broncodilatador) (Karthikeyan et al., 2009).

Além disso, a importância da planta Vasaka no tratamento de distúrbios respiratórios pode ser entendida a partir do antigo ditado indiano: “Nenhum homem que sofre de tuberculose precisa de desespero enquanto a planta Justicia adhatoda existir” (Dymock et al., 1893).

Assim, o uso frequente de J. adhatoda resultou na sua inclusão no manual da OMS “O uso da medicina tradicional na atenção primária à saúde”, destinado aos profissionais de saúde do sudeste da Ásia (OMS, 1990). Os principais alcalóides da planta, vasicina e vasicinona, são biologicamente ativos e são a área em discussão de muitos compostos químicos e estudos farmacológicos.

Maiores informações aqui.

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Corona vírus e Homeopatia

As prescrições homeopáticas que estão surgindo nas mídias sociais para uso no quadro gripal causado pelo corona virus são nitidamente genéricas – para sintomas virais comuns – e não devem ser usadas para “prevenção”. Regra básica da homeopatia: se estiver assintomático não use nada. Além disso, evite as drogas, mesmo as aparentemente inocentes. Algumas drogas, como os anti inflamatórios, são prejudiciais em casos de infecção por corona virus. Seja moderado e procure ajuda se sentir que as coisas estão fugindo do controle.

Sempre é justo e correto individualizar os casos de qualquer doença, em especial as agudas. Nossas doenças são construções subjetivas e demandam uma observação cuidadosa com a forma como são construídas. Entretanto, a exemplo do que já foi observado em outras epidemias (inclusive a “espanhola”), é importante caracterizar o “genus epidemicus”, ou seja, a forma como a epidemia se comporta na maioria dos casos. Para isso será necessário observar centenas (ou milhares) de casos para se perceber a maneira específica como esse patógeno interage com o organismo humano e quais as reações fisiopatológicas mais comuns nos doentes. Algumas observações boas já foram produzidas, e elas poderão ser muito úteis para a seleção do(s) remédio(s) homeopático(s) mais adequado(s).

Muito importante lembrar que o medicamento homeopático não trata doenças, mas produz reações orgânicas no sujeito doente no sentido da cura, oportunizando uma cura pelos processos fisiológicos (e não artificiais) de reação. Entretanto, nenhuma homeopatia – e nenhum outro medicamento!!! – substitui as medidas fundamentais para a erradicação das pandemias:

* Lavar as mãos
* Proteger-se e proteger os mais frágeis
* Isolamento
* Medidas gerais de cuidado e conforto (hidratação, descanso, sono, alimentação, etc)
* Se sintomático (tosse, febre, espirros, mal estar, fraqueza, etc.), não se aproximar de outros sujeitos, em especial velhos, crianças e imunodeprimidos.
* Não comparecer a reuniões, em especial aquelas que desejam o extermínio da democracia. Nesses lugares a contaminação é pior, pois o vírus se mistura com ódio e preconceito e tem seus efeitos potencializados.

Consulte o sistema público de saúde diante de qualquer sinal de agravamento, em especial dificuldade respiratória. Evite procurar serviços de saúde – em especial as emergências – se o quadro não for realmente preocupante. Deixe lugar para quem precisa!!

Acima de tudo seja compreensivo e fraterno. Pense nos outros. Seja um farol de positividade e esperança em um mundo cheio de medos e paranoias. Faça a diferença.

Em verdade Leonardo Boff já dizia que a nossa espécie se caracteriza pelo fato de valorizarmos de forma especial o ato de cuidar. Somos uma espécie em que o cuidado com o outro assumiu importância vital. É hora de mostrar que merecemos pertencer à coletividade humana, cuidando de todos à nossa volta.

Veja aqui as orientações sobre o uso de Justicia Adhatoda para a pandemia de Corona virus.

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Luz

“Minha mãe foi um Flamboyant, sua árvore preferida. Uma planta frondosa e gentil, cuja copa robusta e larga sempre ofereceu sombra e proteção aos seus. Teve uma vida nobre e digna e cumpriu sua missão com coragem e dedicação.”

Provavelmente tudo o que sei passou pelo filtro da minha mãe. Nada mais natural que uma mãe seja a tradutora mestra dos significados do mundo para seus filhos. Minhas recordações mais antigas se referem a ela explicando coisas simples e banais do dia-a-dia, como o rótulo de um produto na mesa ou o que estava escrito em um outdoor na rua.

Minha mãe foi um produto do seu tempo, mas também pareceu ter passado incólume por uma revolução cujos significados e consequências estamos longe de desvendar por completo. Ela era uma mulher muito feminina, delicada, bela, recatada e do lar e tinha uma profunda devoção à família e ao seu companheiro. Desde o momento em que se casou assumiu o cuidado de sua casa e a tarefa de zelar pelos seus filhos, como faziam as mulheres atingidas pela maternidade nos anos 60.

Hoje é fácil notar o estranhamento que causa uma mulher se definir como “recatada e do lar”. Em uma sociedade que cultua o individualismo o cuidado do lar significa o cuidado com o “outro”, portanto o “descuido” de si mesma. O recato, inserido em uma cultura de exaltação do sujeito, coloca o pudor como defeito grave, a timidez como doença e a simplicidade como anomalia, dignas de serem extirpadas por terapias ou drogas.

Entretanto, havia algo na personalidade da minha mãe que me permitiu questionar valores desta cultura muito tempo depois de ter abandonado o calor reconfortante de suas asas. Minha mãe era uma “cuidadora”, na melhor acepção da palavra. Sua missão era cuidar de seus filhos e de seu marido, oferecendo a estes a melhor possibilidade de alçar voos mais grandiosos. Para ela nunca exigiu holofotes ou ribaltas; satisfazia-se com o brilho que conseguia vislumbrar naqueles a quem se dedicou.

Essa perspectiva de mundo foi muito importante para que eu pudesse entender algumas posições subjetivas que não são facilmente compreendidas em um mundo histérico e individualista. Muito cedo entendi que a função de um obstetra não deveria ser a de assumir o protagonismo dos nascimento. “Um obstetra não é aquele que brilha, mas o que reflete a luz que emana do nascimento“, já dizia meu amigo Max, com rara sabedoria. Não caberia a ele “fazer partos”, mas meramente estar ao lado, ajudar, auxiliar e cuidar – “ob stare“. Da mesma forma, não deveria ser esta a função das doulas, cuja ação reconfortante não permitiria brilhos, mas onde a doce presença infundiria confiança e tranquilidade.

Na homeopatia, ramo centenário da medicina, herdeiro das visões hipocráticas e vitalistas da arte de curar, o médico se situa na posição humilde de tradutor dos sintomas para sua posterior interpretação medicamentosa, mas sempre sabendo que a cura só se processa através do sujeito, sem o qual qualquer terapia é inútil e enganosa. Até mesmo a psicanálise – e seus silêncios – sugere a importância primordial de fugir da sedução inebriante da interpretação sagaz, relegando-se a uma condutora silenciosa da alma – um Caronte a levar à luz todo aquele que se aventura a encarar seu próprio inferno.

O exercício mais profundamente desgastante e tormentoso de qualquer sujeito é a supressão de seu Eu, já nos diziam as tradições milenares. Com minha mãe pude ver o sentido divino de diminuir sua luz para que ela não ofuscasse a dos demais. Com ela pude entender a importância de ser simples e reconhecer a grandeza de viver para exaltar a quem admiramos.

Viver para os outros, para fazê-los felizes, também é um ato de grandeza e amor. Este foi o exemplo máximo que recebi de minha mãe. Siga em paz e obrigado….

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Por que homeopatia?

Existem diversas formas de responder esta pergunta. A primeira delas é reconhecer a profunda crise que atravessa a medicina contemporânea. Sua trajetória dentro do capitalismo se mostra cercada de profundas contradições, desde que percebemos a dicotomia entre os aspectos éticos relativos à sua ação terapêutica, preventiva e paliativa e as enormes pressões produzidas pelos lucros – muitas vezes estratosféricos – das empresas que compõe esse setor da indústria. Existem inúmeras publicações que nos mostram o descalabro da medicalização abusiva da vida normal, os efeitos colaterais letais dos tratamentos, o valor pago pelo cidadão comum para tratamentos de pouca resolutividade, os ganhos das empresas de seguro-saúde e o decréscimo da autonomia do sujeito diante do gigantismo do discurso médico.

Peter Gotzsche

Um dos expoentes desta crítica é Peter Goetzche, um dos criadores da Biblioteca Cochrane, onde ele compara as grandes empresas farmacêuticas com organizações criminosas. Logo na introdução do seu livro “Medicamentos Mortais e Crime Organizado – como a indústria farmacêutica corrompeu a assistência médica” ele faz uma comparação dramática que nos obriga a questionar os rumos da medicina: “existem duas epidemias que o homem produziu e que matam terrivelmente – o tabaco e os medicamentos sob prescrição”. Neste livro ele descreve como as empresas de drogas escondem deliberadamente os danos letais de seus medicamentos através de comportamento fraudulento, tanto na pesquisa quanto no marketing e pela negação das acusações quando são confrontadas com os fatos. Goetzche nos lembra da responsabilidade de muitos médicos na prática pouco ética da prescrição de medicamentos desnecessários em vista de benefícios para quem assina a receita, como férias pagas, estadias em hotéis de luxo, jantares e e “lembrancinhas”, e nos alerta que, ao contrário do que a propaganda massiva nos fazer pensar, o “único padrão da indústria é o dinheiro”.

Marcia Angell

Ele não está sozinho nessa batalha. A escritora Marcia Angell, primeira mulher a ser editora chefe da prestigiosa revista “New England Journal of Medicine”, escreveu o livro “A verdade sobre os Laboratórios Farmacêuticos” com acusações do mesmo calibre do seu colega Peter Gotzsche.  Neste livro ela critica o mito de que o os custos elevados da pesquisa científica colocam a necessidade de altos custos para os medicamentos, e lembra que a maioria dessas pesquisas são feitas por instituições acadêmicas ou governamentais, que recebem verbas públicas. Junto com estes autores muitos outros apontam para os desvios terríveis que estão obstaculizando o combate à saúde para todos. Ajustar os descaminhos da medicina é uma obrigação de todos aqueles que se ocupam da saúde humana.

A segunda forma de explicar a razão de fazer um curso de homeopatia é sua maneira especial de encarar o processo de adoecimento. Muito mais do que produzir formas alternativas de tratar as doenças conhecidas, a homeopatia se estabelece por um entendimento diferente dos processos que levam ao desequilíbrio e à perda da homeostasia. A partir desse novo olhar sobre o sujeito – compreendido em sua totalidade psicofísica – e suas doenças, a homeopatia propõe um equilíbrio de dentro para fora, entendendo que qualquer cura que se possa propor precisa passar pelo entendimento de uma unidade complexa reagente composta de elementos físicos e psicológicos. A experiência de mais de 200 anos com as formulações homeopáticas nos oferece uma excelente possibilidade de curas suaves, sem os efeitos deletérios da intoxicação química e sem os custos absurdos da medicina oficial.

Todos os homens cometem erros, mas um bom homem cede quando sabe que seu proceder está errado e conserta o mal. O único crime é o orgulho.” – Sófocles, Antígona

Sófocles

É evidente que a medicina contemporânea fez muitos avanços no que diz respeito às situações de emergência, em especial nos traumas agudos, nas UTIs, nos transplantes e nos antibióticos, mas poucos avanços ocorrem na cura efetiva de doenças crônicas. É claro que a homeopatia tem limites muito claros, já que se vale da energia vital do próprio doente para produzir uma resposta em direção à saúde. Por isso, reconhecer os LIMITES da homeopatia é fundamental para estabelecer a confiança no próprio tratamento que se propõe. No caso da gestação, trabalho de parto, parto e puerpério existem plenas indicações para as condições específicas, mas é sempre essencial reconhecer suas limitações de indicação.

A homeopatia, portanto, tem um lugar especial para os transtornos do ciclo gravido-puerperal, em especial pela ausência de qualquer efeito colateral negativo e a visão integrativa que propõe sobre os desafios físicos e emocionais das gestantes e seus filhos.

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O Papel da Homeopatia no Parto

 

“Uma pergunta muito corriqueira é “qual a contribuição que a homeopatia pode trazer na atenção ao parto?”

As respostas são muitas, mas é importante deixar claro que a atenção ao parto é um processo que trabalha com mulheres (via de regra) saudáveis e no ápice de suas condições físicas. Muito mais do que medicar gestantes nossa tarefa é acompanhar seus passos e garantir que sua trajetória se mantenha na trilha da fisiologia. Entretanto, por seu um processo complexo e que se estabelece na interface entre sujeito e cultura, uma série de desacertos podem ocorrer durante a gestação, parto e o puerpério. Para tais transtornos a homeopatia pode oferecer um tratamento seguro, suave e sem efeitos colaterais.

A homeopatia parte de uma abordagem bem diversa sobre o binômio saúde-doença. Ela não se propõe a ser forma “alternativa” de tratar enfermidades conhecidas, como pneumonia, enxaqueca, gastrite ou anemia, mas uma forma diversificada de entender o sofrimento humano. Portanto, mais do que uma terapia, a homeopatia é um “modelo”, uma leitura diferente das aflições humanas, abrangendo através de sua visão holística tanto os aspectos físicos quanto os psíquicos. As formas de avaliação dos resultados obtidos pelos tratamentos homeopáticos serão, portanto, diferentes dos modelos biomédicos, da mesma forma como as ciências psíquicas o são. Como diz de forma categórica Thomas Kuhn, “As respostas que alcançamos vão depender das perguntas que fazemos”, e estas perguntas dependerão do paradigma adotado para analisar uma determinada ciência ou conhecimento.

Desta maneira, a homeopatia pode ser considerada um novo paradigma na atenção à saúde ao determinar uma nova leitura sobre a terapêutica, mudando de uma visão “maléfica” – como na medicina alopática hegemônica – para uma visão “benéfica”, considerando o conjunto reagente do sujeito como um movimento coerente no sentido da cura. Para analisar este novo paradigma é necessário entender o objeto de análise – o paciente – de uma forma distinta, de maneira integrativa e complexa, rompendo os limites do biologicismo cartesiano. Ao analisar os doentes como entidades onde a mente e o corpo atuam de forma conjugada as perguntas que avaliam uma ação terapêutica qualquer precisam ser modificadas, alteradas para captar a delicada tessitura da construção dos sintomas. A homeopatia vem mudar a visão da medicina tradicional ao reconhecer o organismo como dotado de um saber intrínseco e interno, cujas finalidades precisam ser respeitadas e, mais do que isso, seguidas. Ao lado da psicanálise – duas vertentes contemporâneas de visão endógena de adoecimento, se situam à margem dos modelos terapêuticos atuais exatamente por oferecerem essa visão da “doença dentro da linguagem”, afastando-se dos modelos da biomedicina que desconsideram a construção simbólica de nossas enfermidades.”

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Alegria, alegria

Mulher feliz

Das possíveis alegrias na vida de um médico, em especial um obstetra e ginecologista, está o relato de uma mulher, que depois de alguns anos de atendimento e tratamento homeopático – através do que se poderia chamar de “medicina narrativa” – alcançou pela primeira vez um orgasmo, com a idade de 61 anos.

Mais do que uma melhora clínica, a cura de uma “doença”, a suavização de um sintoma ou a alteração de valores laboratoriais, esta mudança em sua sexualidade nos sinaliza para um câmbio de perspectiva de vida, para um olhar mais positivo e livre das amarras pregressas de rancores e mágoas doloridas, as quais a impediam de alcançar seus mais nobres objetivos.

No ocaso de um percurso de mais de 30 anos de escuta, um relato pleno de esperança como este é capaz de nos encher de alegria e contentamento.

Patu Saleh!!

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Um pouco de Homeopatia

medicamento-homeopc3a1tico

Esclarecimentos gerais sobre homeopatia…

Medicamento homeopático não produz sintomas. entretanto, se houver similitude entre o sujeito que o usa e as características do remédio escolhido poderá haver o despertar de sintomas que pertencem à história daquela pessoa. Caso não haja semelhança a homeopatia não passa de água.

A busca do remédio homeopático parte da investigação das múltiplas características físicas, psicológicas, emocionais, familiares e biopatográficas (a história das doenças) e a confrontação destes aspectos subjetivos com a experimentação de milhares de substâncias homeopaticamente estudadas e catalogadas.

Desta forma, homeopatia funciona como música. Se houver sintonia com a melodia, você pode se emocionar, alegrar ou mesmo entristecer. Ela “desperta” sentimentos e emoções se houver conexão frequencial. Por outro lado, se a música não lhe “tocar” de nada adiantará escutar de novo ou aumentar o volume. É a frequência vibracional que produzirá a sintonia. Você precisa ter aquela música dentro de si

Se não houver esta “similitude” a música que você escuta é apenas barulho.

No caso da homeopatia, é tão somente água

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Psicanálise e Medicina

Freud-Hahnemann
Freud e Hahnemann

– É dos ‘nervos’, doutor.

Coloca a mão fina sobre o abdome encovado e sua face nos expressa sua dor. Ao procurar ajuda já traz consigo a clara noção de que seus males se originam de algo além do seu corpo físico; algo que se esconde por detrás do meramente manifesto. Apesar do gesto simples, sua atitude nos remete a um enigma que persegue pesquisadores, cientistas, médicos e místicos pelo transcurso dos milênios. As doenças “nervosas“, os males psicológicos ou “de fundo emocional”, nos desafiam a criatividade e a inteligência desde que pela primeira vez um homem esteve preocupado com a saúde e o bem estar de seu semelhante. Mesmo que a vinculação entre transtornos psicológicos e físicos seja moeda corrente em diferentes lugares, de simpósios médicos a conversas de bar, sua estrutura íntima ainda é alvo de discussões acaloradas em qualquer nível de debate. Onde afinal esconde-se a tênue linha que separa (ou liga) o sintoma cru em sua manifestação física mais clara e evidente das interrogações e sofrimentos da alma?

Das vertentes ocidentais terapêuticas, a psicanálise e a homeopatia são as duas especialidades clínicas que entendem o sofrimento humano como produtos de elaboração interna, sendo portanto chamadas de “modalidades endógenas de tratamento”. Ambas as práticas entendem os fenômenos de adoecimento como sendo produzidos “dentro” do indivíduo doente, e não como processos adquiridos do exterior. Assim sendo, reconhecem no sintoma muito mais do que um desacerto ou um desconforto de níveis variáveis. Mais do que uma mera leitura superficial de achados clínicos, buscam o significado mais profundo dos mesmos. Para encontrar o fino laço de união entre sintomatologias ilusoriamente apartadas, é fundamental o entendimento de pressupostos fundamentais: na psicanálise a noção de inconsciente, que tem na homeopatia seu equivalente na ideia de “energia vital”.

Sem o conceito de uma ultra estrutura que governa nossas condutas antes do acesso ao racional é impossível entender a sintomatologia psíquica, como muito bem nos elucidou Sigmund Freud no início do século XX. Entretanto, os sintomas físicos também existem em função de uma causalidade, com razões muitas vezes obscuras, mas que são passíveis de investigação e reconhecimento através de uma abordagem ampla e integrativa. A forma de entender esta causalidade é através dos desequilíbrios dinâmicos da energia vital, que a homeopatia elaborou e incrementou.

A psicanálise vai procurar as ligações do sintoma psicológico com os desafios encontrados no processo adaptativo primitivo do paciente, nas suas relações afetivas, sexuais e emocionais com o mundo que o cerca. A homeopatia, criação do médico alemão Samuel Hahnemann no século XVIII, tentará descobrir no próprio sintoma trazido à consulta pelos pacientes o mapa condutor de sua cura, através da tradução dos mesmos em “linguagem repertorial” e no enquadramento do paciente dentro de modelos específicos de adoecimento. Desta maneira, o biotipo, a história pessoal e a sua carga genética serão fatores preponderantes na compreensão de cada caso individual. Por esta razão a homeopatia é também chamada de “medicina do sujeito”.

No processo terapêutico, ambas as modalidades trabalham com um conceito de “similitude”. A psicanálise irá aprofundar-se na própria angústia do paciente, fazendo-a brotar na palavra durante a consulta analítica. A cura se dará através do discurso, pela verbalização e na reorganização de núcleos inconscientes de sofrimento. Na homeopatia, por sua vez, o processo terapêutico ocorrerá através da utilização de um medicamento homeopático o mais assemelhado possível ao próprio conjunto de sintomas dos pacientes, utilizados como sinalizadores e norteadores, onde o medicamento homeopático agirá como estimulador das capacidades internas de reorganização e cura.

A cooperação e interdisciplinaridade entre os profissionais de ambas as áreas é que nos possibilita um entrelaçamento entre o que o paciente nos conta como sofrimento psicológico e o que percebemos como sintoma orgânico. Desta forma holística e integrativa, é possível entender de uma maneira mais ampla o sentido e os significados do ser, do destino e da dor, e através disso encontrar o melhor caminho de cura para cada pessoa.

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