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Filhos

Do ponto de vista pessoal a decisão de não ter filhos é inquestionável. Não apenas é um direito de qualquer individuo como é algo que deve ser respeitado como uma opção válida para a vida. Prefiro que aqueles que não gostam de filhos não os tenham, ao invés de ser obrigado a testemunhar o triste espetáculo de pais e mães que não amam seus próprios filhos. Ser filho de um pai que não gosta e/ou não valoriza a importância da paternidade é uma tristeza imensa; hoje sabemos da significado profundo da figura paterna e seu efeito protetor sobre o futuro de qualquer criança. Entretanto, pior ainda será se esta falta de afeto vier de sua mãe, pois o vazio de amor materno se configura uma tragédia insuperável. Portanto, nenhuma crítica à decisão soberana de sujeitos e casais sobre controlar seu destino reprodutivo; trata-se de um direito inalienável de todo sujeito.

Já do ponto de vista social, enquanto tendência de comportamento, creio que este movimento childfree algo lamentável pois ameaça a própria existência da espécie humana e expõe uma “doença cultural”, na qual a manutenção da vida humana sucumbe diante da exaltação de prazeres egoísticos – como viajar ou andar sem roupas pela casa, segundo consta no texto do casal na matéria veiculada na Internet. Em termos culturais, e até sociológicos, o discurso de estimular casais a não terem filhos pode – e precisa – receber o devido contraponto. Em verdade, isso já acontece. Muitas pessoas questionam as motivações “reais” das pessoas que não desejam filhos, mesmo que aparentemente exponham racionalizações eficientes, como “a pobreza no mundo”, a “violência urbana”, “as dificuldades crescentes no capitalismo” e etc. Entretanto, questionar racionalmente orientações que não são produzidas pela razão só poderá trazer como resposta uma frágil explicação encobridora. A razão verdadeira para ter – ou não – filhos está escondida nos estratos mais profundos do inconsciente.

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Icebergs

Esse assunto se situa no ponto de choque entre dois gigantescos icebergs: tutela e autonomia. A mulher durante a gestação percebe estas duas massas gigantescas se aproximando de forma ameaçante e precisa decidir onde se situar. Ela pode se agarrar a um dos icebergs, mas será inexoravelmente cobrada por ter feito esta opção.

Cada um de nós estabelece um limite na batalha entre a alienação do seu corpo ao profissional e a plena autonomia, de acordo com suas histórias, vivências, estudos e sua topografia na hierarquia de poderes. Entretanto, para esta que sofre no corpo o drama da escolha esta é uma decisão muito mais complexa.

Não sei se acho justo, adequado, válido ou correto quando vejo uma mulher sem pré Natal chegar ao terceiro trimestre, mas as poucas que vi na minha vida traziam no olhar uma pergunta que eu não sabia responder.

Sabe… como olhar para um ato de extrema coragem, mas que, apesar de não concordamos, nos faz questionar nossos valores e nossas certezas.

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