A sociedade do espetáculo produziu mais uma manchete escandalosa: “Mauro Cid contou tudo”. Esse tipo de notícia não deveria soar um alerta para nós? “Eles sabiam de tudo” não faz tocar uma sineta nos nossos ouvidos?
O depoimento do advogado do Mauro Cid, por mais veemente que possa parecer, não pode ser tratado como a “verdade definitiva”. Não podemos permitir mais uma vez que este tipo de peça jurídica seja a estrela de um julgamento. Esta manifestação não pode ocupar o lugar do famigerado depoimento de Leo Pinheiro, o presidente da OAS, “entregando” o Lula, ou as mentiras de Palocci, sob alta pressão, para dizer algo comprometedor contra o ex-presidente. É evidente que esses depoimentos foram obtido sob tortura psicológica. Não à toa depois do depoimento, Mauro Cid foi liberado. Não é para desconfiar? “Diga o que a gente quer e você vai prá casa. Se quiser encrencar é melhor trazer o pijama e a escova de dentes”.
Esse filme a gente já viu para prender o Lula. Depois descobrimos que tudo não passava de mentiras calhordas, de gente desesperada. A mesma turma poderosa do judiciário agora volta suas baterias contra uma ameaça muito maior: o bolsonarismo e sua promessa de romper com tudo, inclusive com a democracia. Qualquer sujeito consciente deveria desconfiar das artimanhas da justiça burguesa, e não aplaudir quando ela parece nos agradar. Eu, pessoalmente, acredito ser verdade, entretanto do ponto de vista da justiça o que acreditamos é irrelevante; é necessário muito mais do que a nossa simples crença. Como diria W. Edwards Deming, um conhecido estatístico americano, “In God we trust; all the rest please bring evidences”. (Em Deus acreditamos; todos os outros tragam suas provas).
Bolsonaro é um idiota e um golpista sem escrúpulos. Um escroque, ladrãozinho do baixo clero. Entretanto, isso não é prova de que soubesse de algum plano macabro de matar inimigos. Se gritamos tanto contra os abusos de Sérgio Moro et caterva, Deltan Dalanhol com seus bandidinhos amestrados e a turma venal do STF – que permitiu o golpe contra Dilma e a prisão de Lula ao arrepio da lei – deveríamos gritar contra qualquer abuso do judiciário, e não apenas contra aqueles que nos afetam. Bolsonaro, por pior que seja (e parece mesmo ser) merece ser julgado com toda a justiça, com provas, com evidências claras e sem delatores sob ameaça. Há que se exigir coerência. Não podemos nos igualar a quem tanto criticamos. Lembrem das palavras de Nietzsche, ao dizer que “Quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você”.

