Melhor falar agora para não ser chamado de oportunista no futuro. Esse protagonismo oferecido ao Alexandre de Morais, um notório antipetista, anticomunista, direitista e apadrinhado do Michel Temer custará caro no futuro. Estamos alimentando corvos, que no futuro podem vir atrás dos nossos olhos. Alexandre nunca foi um democrata; ele é cria do golpismo de Temer e da turma que derrubou Dilma. Colocá-lo em evidência, dando espaço para o ativismo judicial que ele incorpora, é um grave risco para a democracia.
Sou obrigado a concordar que muitas das queixas dos bolsonaristas fazem sentido, não porque eu concorde com suas intenções, mas é impossível que uma nação democrática e soberana coloque o controle do país nas mãos de um sujeito que jamais ganhou um voto e que só tem poder porque um golpista o colocou neste lugar. Permitir a intromissão de Alexandre em assuntos que não a defesa da constituição é inaceitável. E vamos apenas lembrar que quando deveria defendê-la – no julgamento de Lula – votou contra o seu artigo quinto, mostrando que sua ideologia é mais poderosa do que a proteção da Constituição.
Deixar que Alexandre atue fora da lei, baseando-se apenas em suas ideias e preconceitos, pode ser benéfico circunstancialmente para evitar a ação dos golpistas delirantes que pretendem dar um golpe no Brasil. Todavia, permitir que este ativismo político do STF se mantenha – inclusive pela implantação de censura – é um risco para a nossa frágil democracia.
A esquerda não pode cair nessa armadilha. Não é aceitável que criemos o nosso próprio Sérgio Moro, que agindo fora da lei, pelos seus interesses próprios e comandado por forças imperialistas, criou uma das piores crises institucionais no Brasil e manchou de forma indelével a imagem da justiça burguesa – ou talvez tenha apenas levantado o véu e desvelado suas entranhas.
Precisamos colocar um freio no Supremo Tribunal Federal, para que ele não crie asas. Foi a ação penal 470, o julgamento do Mensalão – uma farsa montada para atingir Lula – que colocou estes personagens em relevância. É hora de devolvê-los ao lugar a eles reservado.