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Filme antigo

Existe, entre tantos transtornos, uma clara vantagem em envelhecer: eu já era adulto quando Lula assumiu o governo em 2003, e lembro com exatidão a emoção daquele primeiro governo à esquerda e as expectativas criadas pela figura de Lula como seu mandatário. As críticas da esquerda de hoje à timidez das reformas esperadas são em quase tudo iguais àquelas de antanho. Entre meus amigos do campo progressista havia uma certa decepção que as vezes se expressava como revolta; todos queriam um Lula revolucionário, cheguevarista, colocando a máquina governamental para levar adiante nossos sonhos de equidade, justiça social, reforma agrária, reforma política, etc. e tudo que ele oferecia eram concessões ao centro e até à direita. Naquela época ele já nos sinalizava que não seria possível bater de frente contra as forças conservadoras do congresso, e de que não seria inteligente ou adequado e afrontar um parlamento explicitamente adverso.

Entendo o quanto isso pode parecer ruim para quem esperou longos seis anos para o retorno de um legítimo representante popular ao governo, depois da traição abjeta de Temer e o tempo da barbárie que significou o desgoverno bolsonarista. Também é estranho esse debate democrático no seio da própria esquerda para quem passou quatro anos assistindo um presidente tosco, ignorante e boquirroto como Bolsonaro a vomitar estultices e grosserias entre uma motociata e um discurso misógino e racista. A grande tarefa de Lula, neste aspecto, é resgatar o valor da Política, pois é exatamente isso o que Lula tenta fazer. Muitos desejam solapar o debate político em nome de uma nova ordem tecnocrática, excludente e autoritária, mas encontram em Lula um presidente que reconhece que a única forma que temos de apaziguar o país, dentro da nossa cambaleante democracia, é através do fortalecimento do embate de ideias, e não na sua supressão. Desta forma, Lula é um baluarte de defesa da própria de cidadania.

Apesar de entender as críticas – e concordar com quase todas – ainda confio mais na capacidade de Lula para desatar os nós e tecer a malha complexa dos acordos com os adversários. Este é o caminho mais seguro, dentro da democracia burguesa, para alcançar pequenos e consistentes avanços. Não podemos nos iludir que uma radicalização à esquerda – como desejamos – poderá surtir efeito positivo em um congresso que ainda herdou o clamor anti-político do lavajatismo e do seu filho, o bolsonarismo. Creio que, assim como há 20 anos passados, ainda devemos saudar o fato de que Lula é o maior gênio político da atualidade e o único capaz de recuperar o Brasil da barbárie que se abateu sobre o Brasil nos últimos 10 anos. Minha memória sinaliza que devemos dar o crédito que Lula necessita para fazer o que é possível dentro de um contexto mais adverso ainda do que aquele encontrado quando pela primeira vez exerceu este cargo.

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Boias de Salvação

O “welfare state” na Europa, assim como o keinesianismo nos Estados Unidos, foram as boias de salvação do capitalismo que naufragava. O modelo de bem-estar social europeu (saúde pública, aposentadoria, férias, proteção à infância, salário desemprego, licenças maternidade/paternidade, etc.) resguardou os capitalistas da insurgência popular após a II Guerra Mundial, enquanto o modelo de Keynes (investimento massivo do Estado na infraestrutura) salvou a economia capitalista americana depois da grande crise de 1929, oferecendo a ela um século de sobrevida.

Todavia, era evidente que o projeto viria a fracassar, mais cedo ou mais tarde; não haverá jamais reforma suficiente para salvar um sistema que nos divide em classes. Lula parece e ser um novo Roosevelt, cujo maior feito foi salvar o capitalismo de 90 anos atrás, mas eu duvido que o capitalismo “humanizado” de Lula – com 3 refeições ao dia para todos – seja capaz de salvar o projeto moribundo da sociedade de classes.

É tempo de abandonar o Reformismo e investir na consciência de classe do proletariado…

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Lula e o imperialismo

A chegada do Sergey Lavrov ao Brasil acendeu as sirenes de alerta da direita e daqueles comprometidos com a influência americana no “sul global”. Entretanto, sobraram também algumas críticas da esquerda às declarações “salomônicas” de Lula sobre a guerra na Ucrânia. A declaração de Lula de que “A decisão da guerra foi tomada por dois países” se insere em uma postura diplomática bem clara e evidente dos representantes brasileiros. Por certo que a Rússia, ao invadir a Ucrânia para salvar os russos étnicos do massacre programado no Donbass pelo Batalhão Azov, tem 1% da culpa nessa guerra (que já estava acontecendo há pelo menos oito anos, desde o Euromaidan, e contabilizando já inúmeras vítimas). Os outros 99% da culpa cabem à OTAN, a Zelensky e ao naziterrorismo ucraniano, em especial às milícias do Pravyi Sektor e do Azov. Todavia, mesmo que desgoste os mais afoitos, Lula tem plena razão em se colocar à equidistante nesse conflito. Sua posição de condenar a invasão da Ucrânia pelas tropas russas é protocolar: visa demonstrar sua filiação às normativas mestras da ONU, as quais condenam as invasões de espaço territorial de outros países. Sem essa postura da nossa diplomacia, como criticar as demais ações imperialistas – como as invasões atlantistas no Oriente Médio? Por outro lado, todas as suas atitudes posteriores estão alinhadas com os parceiros dos BRICS e a perspectiva da criação de um novo bloco, que detém 25% do PIB do planeta e 40% de sua população, o que significa um mercado gigantesco e uma perspectiva de crescimento inédita. Também a fala posterior, onde Lula questiona a supremacia do dólar, e mais ainda a eleição de Dilma Rousseff como presidente do banco dos BRICS, desempenham um importante passo no sentido dessa integração e um afastamento significativo dos interesses do FMI e do imperialismo.

Nada me orgulha e estimula mais em “Lula III – o Retorno” do que sua posição anti-imperialista. O apoio aos Brics, em especial às posições de Putin, é o melhor exemplo da postura de enfrentamento ao Império. A formação de um bloco independente da ação predatória do imperialismo nos países satélites passa pelo apoio ao presidente Putin, por mais que sejamos contrários a algumas de suas posições em território russo. A posição legítima e precípua de esquerda é pela autonomia dos países, algo contrário aos interesses da OTAN e dos Estados Unidos. Porém, é assombroso testemunhar que muitos ainda apoiam a posição ucraniana, mesmo à esquerda no espectro político. Ao comprarem a versão do “Putin malvadão” e da “Rússia expansionista” – duas peças descaradas de propaganda imperialista – não tiveram nenhum pudor em oferecer total apoio (ou virar o rosto para não ver) os nazistas da Ucrânia, o Pravyi Sektor, o Batalhão Azov, a exaltação do nazista e antissemita Stefan Bandera, o massacre dos russos étnicos no Donbass, os 14 mil mortos no conflito em Donetsk e Lugansk, o assassinato dos 42 ativistas e sindicalistas (muitos deles queimados vivos) em Odessa e as ameaças da utilização da Ucrânia como base de mísseis contra Moscou pelos nazistas que chegaram ao poder na Ucrânia após o golpe do Euromaidan. Quem, ainda hoje, consegue aceitar a posição da Ucrânia e da OTAN e condenar a ação russa de proteção de sua integridade territorial?

Mais ainda: enquanto aceitam como válidas as críticas contra Putin permitem que os maiores invasores do mundo – os Estados Unidos – venham a pregar “moral de cuecas”. Ver americanos acusando russos de “expansionistas” é mais do que ridículo; é produto de lavagem cerebral, um trabalho produzidos por décadas de invasão nos países do terceiro mundo, produzindo o conhecido “excepcionalismo americano”, que permite que este país realize exatamente o que critica e combate nos outros. Lula percebeu a russofobia que permeia esta guerra e também percebeu o quanto apostar no imperialismo seria contrário aos reais interesses do Brasil, no que diz respeito à sua industrialização, autonomia e na produção de um planeta multilateral. Na verdade, a posição de Lula é quase irretocável, algo característico da sua genialidade política. Acreditar no risco de invasões russas na região é ignorar que a Crimeia não foi anexada, ela votou pelo retorno à Rússia, com mais de 95% de votos favoráveis. A Rússia tão somente protegeu a vontade soberana do povo da Crimeia – uma região historicamente ligada à Rússia, e onde ocorreu a conhecida “Guerra da Crimeia” que envolveu a Rússia czarista contra uma coalisão de países europeus e o Império Otomano. Da mesma maneira, o povo do Donbass também votou de forma massiva, quase 90% de votos, em sua independência da Ucrânia, posteriormente transformada em reunificação com a Rússia.

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Leftismo

Acho curioso que, ao ser perguntado, sempre informo que sou um sujeito de esquerda. Mas isso acontece apenas quando estou no Brasil; se estivesse nos Estados Unidos eu jamais poderia sequer imaginar me associar aos movimentos da esquerda americana. Apesar de entender a dicotomia da política americana – onde um partido único de direita se separa em dois, sendo um chamado “right” e outro “left” – ainda acredito que não existe nada mais reacionário do que ser um “leftist” do partido liberal (democrata) de lá.

Nos Estados Unidos ficou muito evidente a aposta no “fim da história” preconizada por Francis Fukuyama. No ano de 1989, quando o mundo viu caírem os muros que separavam Berlim, o cientista político e economista americano Francis Fukuyama publicava seu famoso artigo com o provocativo nome de “O fim da história?” na revista The National Interest. Nele o economista antevia que a disseminação sem contraposição das democracias liberais e do capitalismo de mercado eram os sinais inequívocos de que estávamos dando um passo definitivo para o progresso econômico e cultural da humanidade, sendo o modelo disseminado pelo Império Americano aquele se seria o fim da nossa busca por um sistema global de justiça social. Três anos mais tarde, Fukuyama publicaria o livro “O fim da História e o Último Homem”, onde explorava com mais profundidade essas ideias.

Por esta razão, o bipartidarismo americano se assenta sobre essa premissa: nenhum dos partidos tem necessidade em debater a estrutura liberal da sociedade, pois se trata de um debate morto, solapado pelo tempo e pelo fracasso do socialismo real. Todavia, para manter a face enganosa de “duas propostas” políticas, dividem-se pelas questões de costumes como aborto, direitos para gays, negros, transexuais, imigrantes, etc. Para qualquer observador atento, fica claro que se trata da mesma proposta capitalista e imperialista que está presente no “ethos” de ambos partidos, o que se pode ver facilmente pela política externa, onde o imperialismo, o apoio a Israel, o incentivo à guerra e o controle do planeta com mãos de ferro são inequívocos pontos de confluência.

Aqui no Brasil é possível ver muitos reflexos do “leftismo” importado dos americanos no debate político contemporâneo. Partidos ditos de esquerda estão apostando muito mais do debate identitário do que no combate ao capitalismo, no imperialismo e suas mazelas. A exemplo do que ocorreu com o partido Democrata, parecem que apostam em pequenas reformas e na representatividade de setores ditos oprimidos para que a base da injustiça social não seja tangenciada. Aqui, suas pautas se expressam no identitarismo e no wokismo que, infelizmente, contaminaram setores significativos dos seus militantes. Para levar adiante suas propostas e sua visão de mundo não se envergonham de estabelecer contatos profundos e íntimos com instituições imperialistas e golpistas, como a CIA, USAID e NED. Os focos principais são as instituições em defesa das mulheres, do antirracismo, as que oferecem apoio à comunidade gay e aos transexuais, financiados pelas onipresentes “Fundação Ford”, “Gates Institute”, “Open Society” e aquelas ligadas aos irmãos Koch.

Se Lula não conseguir se livrar dessa armadilha o seu governo será inexoravelmente controlado pela esta direita mascarada de progressista, da mesma forma como estes grupos controlam o governo americano agora.

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Justiceiro

As prisões não precisam ser “colônias de férias”, por certo, mas igualmente não podem ser as masmorras medievais, imundas, superlotadas e desumanas que caracterizam o sistema prisional brasileiro. Inobstante os crimes que tenham cometido, todos os brasileiros – até os golpistas bolsonaristas – têm direito a um tratamento digno garantido pelo Estado. Não há desculpa pelo descaso com quem cumpre pena, e nada justifica que prisioneiros sejam tratados de forma humilhante. O Estado precisa dar o exemplo e não pode ser mais criminoso do que aqueles cidadãos que cometem delitos.

Quem aplaude as ações de Alexandre apenas porque ele agora aparece ao lado da civilização, mais cedo ou mais tarde perceberá que sua índole é punitivista e autoritária. Esse filme eu já vi: “cria cuervos y ellos te comerán los ojos”. Passada a urgência dos levantes fascistas e, na primeira oportunidade, o ministro todo poderoso vai agir como na Lava Jato ou na prisão de Lula: um agente do poder militar e um direitista embriagado pelo poder.

Não se deixem enganar pela máscara democrática que estes vingadores vestem. O voto de Alexandre a favor da prisão criminosa de Lula ainda está presente em minha memória. Não será essa a verdadeira persona do ministro, enquanto o justiceiro de agora é tão somente seu disfarce e sua estratégica dissimulação?

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Reis do Povo

Pelé e Lula na Comemoração do cinquentenário do primeiro mundial (1958)

Já é possível sentir o bater de asas dos abutres esperando o Pelé morrer para despejar seu racismo em forma de críticas morais ao Rei do Futebol. Não é fácil para o Brasil Branco exaltar um Rei Negro. Nunca o aceitaram, e não será agora. Agora nas redes, e do alto de sua pureza moral, identitários estão postando críticas à vida privada de Pelé, numa tentativa de destruir a imagem do maior ídolo do esporte mais importante do planeta.

Sempre que eu escuto a narrativa da filha é nítido que aqueles que a contam não conhecem a história toda e estão fazendo críticas baseadas em meias verdades, mentiras e fofocas. Poucos se dão ao trabalho de escutar os dois lados do enredo. Mas antes desse episódio Pelé já era atacado por “não ajudar Garrincha” – sendo desmentido por Elza Soares – ou de “não ter ido ao seu enterro“, como se cuidar do craque das pernas tortas (que jamais foi seu amigo) fosse sua obrigação. Sempre existiu uma enorme patrulha sobre quaisquer atos de Pelé, como se o fato de ser negro e famoso lhe conferisse uma dívida com os brancos que permitiram a sua notoriedade.

Quando Pelé dedicou o milésimo gol às crianças, naquele jogo emblemático no Maracanã contra o Vasco, foi porque não passava de um ingênuo que estava fazendo demagogia. Quando levou o nome do Brasil para todo o mundo, sendo eleito o maior atleta do século XX e patrimônio da humanidade, o fez apenas por dinheiro. Se foi o maior jogador do mundo é apenas porque “naquele tempo era mais fácil”, mesmo que as agruras do futebol violento a que foi submetido nos anos 60-70 fossem inimagináveis quando comparamos com o que é praticado nos dias de hoje.

Em verdade os ataques a Pelé muito se assemelham às agressões sofridas por Lula desde que este se destacou como líder no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC Paulista. Quando Lula ressaltou a importância de dona Marisa na criação do PT em seu velório foi atacado por estar fazendo comício sobre um corpo já sem vida. Se Lula vai a um restaurante caro é um “comunista gourmet”, mas se faz um piquenique com dona Marisa e carrega um cooler de isopor na cabeça é porque não passa de um populista criando um personagem. Quando Lula visitou um apartamento, sem jamais ter a posse do mesmo, foi caçado impiedosamente por uma horda de promotores fanáticos e um juiz corrupto.

A verdade é que, inobstante o que façam, Pelé e Lula jamais serão aceitos pela burguesia deste país exatamente por serem quem são: representantes das camadas populares, do povo pobre, dos descamisados, dos negros, dos operários, dos mulatos, nordestinos e retirantes. Ídolos dos torcedores cuja alegria máxima é o gol e heróis para os pobres que sonham com uma vida digna para sua família. Não há perdão para os ídolos que, emergindo das camadas inferiores da sociedade, tornam-se ícones planetários por suas habilidades, seja no esporte ou na política.

Não terei pena daqueles que resolverem tripudiar sobre o corpo frágil do Rei do Futebol, o atleta máximo do século XX, o maior gênio que o esporte já criou neste planeta. Eu me impressiono muito com o esforço imenso que algumas pessoas fazem para odiar Pelé. Pois eu digo: odeiem o Chico Buarque também. Apesar de ser branco, se procurarem bem vão achar alguma razão para ele ser cancelado. Vamos, sei que imaginação não lhes falta.

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Antipolítica

A tese mais antiga que me acostumei a escutar no debate político é a tradicional “antipolítica”, típico discurso da direita travestido de niilismo. Nesta tese, todos os políticos são iguais. Se um dia foram pessoas normais a política destruiu seus princípios e sua honestidade, tornando-os ruins e corruptos. “O Poder corrompe”, diriam eles como inaudita novidade. Aliás, esse é o discurso bolsonarista clássico, que deseja tratar todos como se fossem iguais, mas não apenas isso: a política é uma só, esquerda e direita são ilusões, e só o que vale são os desejos mais egoísticos de quem assume o poder. Toda a classe política não passa de “peças no grande jogo de xadrez”, controlado alhures, por forças invisíveis (o comunismo internacional? George Soros?) o que torna o ato de votar em uma ação inútil e ridícula. “O jogo já está jogado”, dizem.

São os mesmos que, sendo incapazes de mostrar os crimes de Lula, apontam para o inquérito conduzido pelo juiz corrupto Moro, uma peça fraudulenta que o acusou de….. nada. Nem objeto do roubo está descrito (o famoso “objeto indeterminado”), já que o Triplex não poderia ser dado a ele porque sequer pertencia à OAS. São os mesmos que apostam nas fake news de “roubos do BNDEs”, mesmo quando o próprio Bolsonaro desistiu dessa fantasia. São eles que chamam Lula de ladrão sem JAMAIS mostrar um delito seguido de uma prova. Estes indivíduos (note que não estou fazendo julgamentos morais) acreditam que o Brasil deveria ser controlado por “técnicos”, sujeitos “neutros”, longe de “ideologias”, trabalhando pelo bem comum tendo a luz do “positivismo” como norte. Ou seja…. gente de direita, e até fascistas, como se pôde observar no governo de Bolsonaro.

Não há como continuar aceitando este tipo de discurso. Durante as eleições eles se uniram à turma do “nem-nem“, como que a chamar a todos nós de “massa manipulável”, já que nada poderia ser feito diante da desonestidade essencial e inexorável que existe na política e nos partidos. Arautos do apocalipse, sinalizam com a igualdade entre Bolsonaro e Lula, mas pretendem ser infensos às disputas, posto que se consideram “neutros e realistas”.

Não são; em verdade são agentes – mesmo sem o saber ou desejar – do conservadorismo mais reacionário e mais tacanho. Apostam no imobilismo e na inação como resposta…. mas acabam votando nos candidatos da direita mais abjeta por “praticidade”, ou porque acreditam serem os “menos piores”.

Essa não…. esse discurso está caindo de velho e não cabe mais nas sociedades que pretendem emergir do subdesenvolvimento no século XXI.

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Fake News

“MINISTRO do STF, Gilmar Mendes almoçando com o FILHO do Lula, em Roma/Itália, no dia 09 de outubro de 2022.”

Nas páginas dos amigos bolsonaristas encontramos estas pérolas da desinformação, adquiridas diretamente das sombras do WhatsApp: o Ministro do STF Gilmar Mendes almoçando com o “filho do Lula” em Roma no meio do segundo turno. Um simples olhar com atenção bastaria para ver que o sujeito na foto não lembra qualquer filho do presidente Lula. Entretanto, o Porsche dourado, a mansão no Uruguai, as lojas Havan e o triplex também eram facilmente desmentidos; por que, então, tantos acreditaram?

Eu pergunto: como puderam tantos acreditar nessas tolices? Como puderam receber estas mensagens pelo WhatsApp e imediatamente as disseminaram, sem ao menos verificar se a Havan era do “véio”, se a JBS já tinha dono, se na mansão já havia moradores e se o barbudinho na imagem não é qualquer outra pessoa?

A resposta é a necessidade premente de acreditar em qualquer fato – mesmo mentiroso – que confirme suas crenças. Por isso as pessoas acreditaram no “estado de sítio” há alguns meses, ou na prisão do Ministro Alexandre de Moraes logo após a vitória de Lula. Trata-se do conhecido “viés de confirmação“, um mecanismo psicológico primitivo que nos força a crer nas interpretações da realidade que confirmam as nossas crenças mais primitivas, as quais são originadas dos nossos afetos e emoções, não dos estratos superiores da razão.

Isso explica tragédias como Jonestown, onde 900 seguidores de Jim Jones tomaram cianureto, seguindo as ordens do seu mestre e guru. Também nos permite entender toda a idolatria dos extremistas de Waco, no Texas, vítimas de um incêndio que provocou a morte de 76 membros da seita davidiana em 1993, entre elas 23 crianças e o próprio líder, o pastor Koresh.

Somos constituídos de um núcleo de medos primitivos, tendo a angústia como sentimento fundador. Por sobre este medo essencial, colocamos uma grossa camadas de crenças irracionais (Deus, evolução, causa e efeito, progresso, justiça divina, determinismo, etc) que aliviam a nossa angústia estabelecendo uma relação de causalidade para os eventos caóticos da vida.

Por sobre esta camada de crenças aplicamos uma fina camada lógica, um verniz de intelecto, uma fachada tênue de racionalidade, que nos afasta dos medos sem, no entanto, eliminá-los, mas que nos oferece a sublime ilusão de sermos seres autônomos e conscientes. Tão brilhante é esta camada externa que ela nos ofusca e nos engana, fazendo-nos pensar que somos conduzidos pela luz da razão, quando em verdade ela funciona mais como uma máscara frouxa a esconder nossa estrutura primitiva e pulsional.

Não é por outra razão que somos presas fáceis das fake news. Elas são apenas a água refrescante que nossa alma sedenta de confirmação tanto deseja. Diante de tanto desejo, nossa razão minúscula é uma combatente frágil e minúscula. Via de regra, é derrotada pela avalanche de informações que desejamos ardentemente acreditar, sendo elas falsas ou não.

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PT e o cenário nacional

Pensem no seguinte: o PT ganhou 5 eleições nacionais em 20 anos, e a única que perdeu foi causada pela fraude liderada por um juiz ladrão, que comandou um golpe gestado nas entranhas do imperialismo. Foi também a vitória da esquerda, de um partido de trabalhadores, nascido das lutas da classe operária.

Lula venceu (mais) essa eleição e se torna o maior ícone mundial da luta dos povos oprimidos, o mais importante líder das nações ocidentais e a esperança de um novo mundo multipolar. O mundo inteiro celebra a derrota do fascismo e a volta da democracia no Brasil. Essa eleição será exemplo e estímulo para os trabalhadores do mundo inteiro, e produzirá uma onda de esperança e renovação em nível planetário.

Minha tese: bolsonarismo enfraquece mas não acaba. Bolsonaro não será descartado pela burguesia, pelo menos não nos próximos anos. Boa parte da burguesia (os interesseiros) vai se unir a Lula por oportunismo. Não há líderes intelectuais na direita da envergadura de Olavão e Bolsonaro estará muito enfraquecido. A extrema direita perdeu seus grandes líderes populistas. Porém, tirem da cabeça a ideia de que Bolsonaro pode ser preso. Ele é apoiado por uma parte muito grande da classe média ressentida, o bolsonarista “enrolado na bandeira”. Tem mais de 50 milhões de votos, e isso é uma enorme representatividade.

Bolsonaro será, no máximo, julgado pelo judiciário, que sempre é subserviente à burguesia. Acontecerá com ele o mesmo que ocorreu com Collor e mesmo com Temer: atacados pela intelectualidade, bombardeados pela imprensa e pelo povo, e posteriormente liberados pela justiça. Não há judiciário independente no Brasil capaz de exercer poder sobre a alta burguesia. Os próximos capítulos serão definitivos. A primeira manifestação do Bozo será determinante para descobrirmos a estratégia que eles vão usar em prol da própria sobrevivência.

A vitória de Lula e do PT tem múltiplos significados. Entre eles, o fato de que a direita brasileira teve uma sobrevida. Lula conseguiu salvar o que restava dela, esmagada pela extrema direita autoritária e fascista. Também significa a volta do Brasil ao mundo. Se Bolsonaro se mantivesse à frente da nação teríamos o aprofundamento do nosso isolamento, o Brasil como pária, desprezado por todas as nações.

Lula salvou o Brasil de um desastre civilizatório. Lula representa a esperança de conciliação nacional, por mais difícil que isso nos pareça agora. Por fim, a vitória da esquerda bloqueia o projeto de voltarmos à velha república, sem educação, sem esperança para os pobres, centrado no latifúndio e na classe média mais abastada.

O Brasil volta aos braços do mundo!!!

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Fake News

A chuva de fake News não para…. mas isso sinaliza o pânico das hostes bolsonaristas. Sabe o que é isso? Quando não há argumentos para atacar alguém a gente cria um espantalho, um inimigo falso, fajuto, fantasioso, criado à nossa própria semelhança, para que possa ser atacado com mais facilidade. Na falta de algo concreto para atacar sua honra e religiosidade, vamos inventar um Lula o mais parecido possível com… o próprio Bolsonaro.

Respondam: foi o Lula que planejou comer carne humana? Foi o Lula que admitiu zoofilia? Foi o Lula que tinha “apartamento pra comer gente”? Foi o Lula que assumir ter determinado à esposa abortar o 04 – Renan Gamer lobista? Foi o Lula que mediu negros em arrobas? Foi o Lula que disse que precisavam matar 30 mil – inocentes, inclusive? Foi Lula que declarou “sonegar tudo que pode”? Foi o Lula que disse preferir um filho morto a um filho gay? Foi o Lula que disse que espancar criança – dar um couro – conserta sua orientação sexual? Foi o Lula que disse que seus filhos eram educados e não namorariam uma negra? Foi o Lula que chamou a própria filha de “fraquejada”?

Foi o ex-presidente Lula quem comprou 107 imóveis, 51 deles em dinheiro vivo?

E vocês acham Bolsonaro …. cristão????

A gente não precisa espantalho; basta mostrar o que o próprio Bolsonaro declara.

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