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Utopias

No YouTube vejo mil cursos dizendo para você crescer, sair da sua “zona de conforto”, ser um vencedor e conquistar aquilo que você merece e que só não ganha por preguiça – ou falta de oportunidade. A totalidade deles se baseia na ideia de que você pode ganhar o dinheiro que os outros estão perdendo, aprender a lucrar com as brechas do sistema financeiro, lucrar com “mercados emergentes”, se fartar na flutuação da bolsa ou encher o c* de bitcoins, bastando para isso entender as manhas do grandes vencedores.

Tudo isso terá como resultado final ganhar muito dinheiro, vencer na vida, ser reconhecido, ficar famoso, usar uma peruca legal, viajar pelo mundo, conhecer mulheres incríveis em seus biquínis minúsculos deitadas de bunda pra cima na proa da sua lancha ancorada em uma praia do Mediterrâneo. E eu achando que uma utopia bem mais divertida seria ir com os meus netos passar um fim de semana na praia do Pinhal ou visitar a concha acústica de Cidreira.

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Praia do Pinhal

Vó Vera

Minha sogra tinha casa no Pinhal, para onde ia todos os verões, carregando seus 7 filhos. Zeza era uma das 5 filhas. O filho mais velho, Carlos Fernando, faleceu um ano antes de eu começar a namorar com ela, num acidente que marcou muito nossa geração de amigos. Eu tinha 17 anos na época e íamos de “galere” para Pinhal nos feriadões e nas férias. Era muita zoeira. A casa ficava literalmente a 30 metros do mar. Um pequeno chalé de madeira, com dois quartos, que chegava a acomodar mais de 20 pessoas nos fins de semana. A regra era: mulheres nos quartos e nas camas, homens deitados em colchões improvisados no chão da sala.

Haja fossa séptica!!! Fim de tarde saíamos para caminhar na beira da praia e quando escurecia íamos ao “centro”, perto do “osso da baleia” para tomar sorvete de milho verde. Meus filhos ainda conseguiram pegar o final desse tempo mágico, mas o tempo já havia passado e a magia foi fenecendo. Pinhal é para mim uma maravilhosa lembrança de adolescência, mas para Zeza e seus irmãos é muito mais, pois toda a infância deles foi ali, na beira do mar.

Dona Vera, minha sogra era o centro de onde irradiava essa luz de congraçamento. Em torno dela gravitavam seus filhos e os “achegados”. Enquanto teve energia e desejo, foi o elo necessário para conectar a todos. Ela foi da última geração de donas de casa, dedicadas ao lar e à família, e ia para o Pinhal no fim de novembro (quando todos os filhos já haviam passado de ano) e voltava para Porto Alegre no fim de fevereiro.

Eram quase 3 meses de areia e sol. A vida deles cursou muito por lá. Pinhal é, portanto, o lugar mágico, idílico, onde é possível ser feliz. Se Freud está certo e a felicidade é reviver os momentos e as sensações de gozo da infância então para Zeza e seus irmãos o único lugar possível para essa alegria sublime é a praia do Pinhal….

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