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Médicos cubanos

Acho chocante quando algumas pessoas tentam atacar a medicina cubana usando velhos chavões imperialistas, apenas pela incapacidade de enxergarem a medicina por uma perspectiva mais abrangente. Colocam os “médicos” cubanos entre aspas como se fossem profissionais de segunda classe. Nada poderia ser mais equivocado.

Certamente que para estes críticos o paradigma de Medicina evoluída se aproximaria da “estética médica americana”, que confunde tecnologia, sofisticação, drogas e intervenção com qualidade na atenção, o que é um erro comum, tendo em vista a avalanche de programas americanos de TV sobre médicos e hospitais que sempre investiram nessa imagem. Marcus Welby MD, Dr. Kildare, ER, Plantão Médico, The Good Doctor, Grays Anatomy, Dr. House e até Breaking Bad exploram uma visão mercantil e tecnocrática da medicina inserida no capitalismo. É compreensível que a visão do que seja um médico entre nós seja tão distorcida ou, no mínimo, enviesada, desreconhecendo outras formas e perspectivas de diagnóstico e tratamento.

Eu costumo dizer que a aplicação estrita e meticulosa da MBE – Medicina Baseada em Evidências – tornaria a prática médica no ocidente tão diferente do que a conhecemos que ela seria vista com desconfiança por um observador desavisado. Um médico que pratica pura ciência médica não seria reconhecido facilmente, tão distante ele estaria da imagem que a propaganda criou sobre como fala, o que diz, o que veste, sua classe social e sua postura.

Pois essa medicina tecnológica, inserida no paradigma da tecnocracia, do patriarcado e do capitalismo tem seu maior exemplo na medicina americana, essa mesma que é vendida como padrão para o planeta inteiro. E não por acaso, essa é a de pior resultado entre todas as nações do primeiro mundo. Como exemplo cito o fato de que os Estados Unidos estão em 50o lugar em mortalidade materna e 52o lugar em mortalidade neonatal, MUITO atrás de Cuba, para vergonha dos meus amigos gringos. E a mortalidade materna americana, ao contrário do resto do mundo, cresce ao invés de cair.

Se há uma medicina que merecia estar entre aspas é a nossa, cópia mal acabada de um modelo ruim, caro e ineficiente. A medicina cubana, ao se mostrar integrativa, pessoal, afetiva, preventiva e holística causa irritação em quem se acostumou a ver uma prática médica exógena, invasiva e endorcista. Ao contrário da cubana, a nossa obtém mais lucros quanto mais doente o paciente fica.

Por estarmos ainda carregados de uma visão etnocêntrica nos tornamos incapazes de ver formas alternativas de assistência e abordagem. Por isso esse triste preconceito.

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