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Sinais

Os sinais estão lá, para quem ousar decifrá-los.

Acredito que o sujeito que será um bom pai – ou um pai comprometido e amoroso – enviará sinais desde os primeiros momentos, ainda no processo de enamoramento, sob a forma de códigos, sinalizações, mensagens criptografadas, dicas e pistas esparsas, que aparecerão nos detalhes do comportamento e nos espaços de silêncio que separam as palavras. Podemos perceber na forma como fala das crianças, como as enxerga e como entende sua educação.

Se quiser saber que pai ele será, também pode ser de ajuda saber como foi a sua relação com os seus pais, as mágoas que ficaram, os traumas e temores. Dá para perceber a paternidade latente ao observar como lembra do seu próprio pai e como o trata na velhice; se perdoou suas falhas e erros e se tem ressentimentos e cicatrizes afetivas em relação à sua infância.

A paternidade já está inscrita nele através dos padrões que recebeu dos pais – em especial do pai, que será eternamente seu modelo. Por certo que não há como saber tudo, e acredito que existe a chance de haver surpresas – para o bem e para o mal – mas é possível ter uma boa noção de como ele se relaciona com a paternidade. Não é um tiro no escuro, ainda que a luz tênue que ilumina o traçado torne sua leitura um mapa de laboriosa decodificação.

Para uma mãe use a mesma regra….

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Match

Na adolescência eu sempre perguntava aos meus amigos gays como eles sabiam que outro sujeito era gay. Eles caiam na gargalhada com a minha pergunta ingênua e tola, e a resposta que me davam era… “pelo olhar“, o que hoje se chama “gaydar“.

O que eles tentavam me dizer é que o desejo do sujeito transparecia nas fissuras do discurso, nos detalhes, nos mínimos gestos, nas sugestões, nos sorrisos, na escolha das palavras e nos silêncios. Tudo o que levamos para fora de nós mesmos é mensagem, inclusive a roupa – ou mesmo a falta estratégica de tecido a desvelar os corpos.

Mas se os amores se encontram pelos sinais não-verbais, também as patologias fazem match…

Não haveria como ser diferente. Da mesma forma, os psicopatas se comunicam por estes detalhes minúsculos e imperceptíveis aos olhos desarmados. Na juventude eu me impressionava com as histórias de Bonnie & Clyde, e tantos outros casais unidos pelo crime. Algumas duplas eram capazes de perversidades impensáveis, que conjugavam tortura, morte e obsessões sexuais. Na época eu pensava: como estes perversos conseguiram se encontrar? Como acharam suas almas gêmeas sem expor publicamente suas paixões criminosas?

Se os amantes conseguem se encontrar pelo desejo, buscando sinalizadores nas filigranas do comportamento, também as mais bizarras perversões saem à tona por estes meios. O desejo não se contém nos limites do corpo e poreja através de cada detalhe, cada frase, cada pausa no discurso. Se o humano precisasse da linguagem articulada para se expressar ainda estaríamos na floresta, morando nas árvores. Somente há poucos milênios usamos as palavras para enviar mensagens, mas nossa história com as formas mais sutis de comunicação já tem alguns milhões de anos.

Por isso é que nós humanos – em especial as mulheres, mas essa é outra questão – desenvolvemos as habilidades de ler o outro através dos sinais enviados de forma velada e codificada. Estas são, por certo, as mais importantes ferramentas do nosso lento processo evolutivo.

(Após uma provocação de Maury Braga Gutierrez)

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