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A verdade está lá fora…

“A verdade está lá fora”…
(Close encounters of the 3rd Kind)

Será mesmo?

Certa vez uma amiga me encontrou logo após sua primeira sessão de uma nova terapia que havia iniciado, baseada em estímulos sonoros repetidos (??) e o reconhecimento explícito de traumas recorrentes no percurso da vida, entendidos como os reais causadores do sofrimento.

Esfuziante de alegria ela me explicou que houve 32 episódios traumáticos nos últimos 15 anos, o que explicava seus transtornos atuais, sua depressão, sua infelicidade e seus desajustes amorosos. Sua felicidade pela descoberta era como o alívio de quem se despedia de um pesado fardo após uma longa caminhada. “São os traumas, os traumas”, dizia ela.

Era um sentimento tão legítimo e contagiante quanto…. falso. Para mim ficou claro o desejo exonerativo pelo qual se apegara, algo que daria sentido à sua dor, mas que retirava dela a responsabilidade pela construção de suas feridas e sofrimentos. Mais ainda: aquela porta abria a compreensão de uma origem exógena para todos os males. “Dor é uma coisa que impuseram a mim, não algo que muitas vezes procuro avidamente“, disse ela.

O mesmo acontece com qualquer terapia que desonera o sujeito, centralizando seus males na família, na mãe, no pai, na pobreza e no outro. Não há dúvida alguma da importância e participação destes significantes na estrutura de vida e nos dramas de qualquer um, mas o erro surge quando negamos participação (geralmente inconsciente) do sujeito na construção do próprio sofrimento, alienando de si essa responsabilidade, tornando-o vítima passiva da história e das circunstâncias. Não existe protagonismo na passividade.

Para minha amiga havia um acordo tácito com qualquer um dos seus múltiplos terapeutas: “Diga o que quiser, mas nao retire de mim os sintomas que bravamente construí durante uma existência inteira. E haja o que houver, não me deixe falar de mim. Tome aqui esta versão que lhe trago, a qual preparei cuidadosamente em casa para lhe entregar”.

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