Construindo a Maternidade

Menino Sorrindo

A maternidade é uma construção muito mais complexa do que aquela ditada pela biologia. Somos constituídos por um núcleo de medos, fantasias e crenças, cobertos por uma fina camada de intelecto, que nos faz pensar que estamos livres dos perigos ao nos oferecer uma ilusão de controle. Por outro lado, a linguagem nos oferece uma especial posição na criação: somos muito mais do que uma mera carcaça de ossos e tendões recoberta por uma tênue camada de pele.

No que diz respeito ao nascimento, uma criança pode ter sido adotada, nunca ter conhecido seus pais biológicos, até mesmo abandonada sem jamais ter recebido a carga de hormônios adaptativos relacionados com o vínculo, e mesmo assim ser amada, saudável e crescer com felicidade. Exemplos como este são fáceis de encontrar na cultura. Ao mesmo tempo, o presídio está cheio de adultos que nasceram de parto normal, assim como os manicômios estão lotados de mulheres que pariram naturalmente. Não existem linhas retas a nos guiar a trajetória. Se é lícito acreditar nas inúmeras evidências que demonstram a superioridade do parto fisiológico sobre qualquer alternativa cirúrgica, tanto para a mãe quanto para o bebê – e de uma forma abrangente (física, emocional, espiritual, social) – também é verdade que um parto conduzido sob estas diretrizes não é garantia de uma infância feliz ou livre de problemas. A sinuosidade da vida é o que faz dela um caminho a ser percorrido todos os dias, e sem garantias.

Da mesma forma, um nascimento com mais riscos (de toda ordem) ocorrido de forma operatória, pode produzir uma criança feliz e uma mulher plenamente realizada com sua maternidade. Basta para isso reverter as dificuldades que se apresentaram na “porta de entrada”. Se é verdade que reconhecemos a inexistência de determinismo no parto e nascimento, também é certo que valorizamos as evidências comprovando que os riscos diminuem quando adotamos uma conduta respeitosa com a natureza íntima que estrutura o nascimento humano. Se não temos nenhuma garantia como os partos mais dignos, temos a certeza de que esta escolha é a que mais facilmente leva o sujeito a receber a nutrição de afeto que será seu combustível para o resta da existência.

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Arquivado em Ativismo, Parto

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