
Um parto é como um casamento: uma travessia cheia de percalços, dificuldades, problemas, atrasos, recuos e vicissitudes de todas ordem. Tanto quanto um parto, um casamento é sempre acompanhado da constante sedução da desistência. Basta olhar para o lado e iludir-se rapidamente com a promessa de uma vida melhor desistindo do projeto antes planejado. Parece-nos tão simples, tão mais fácil e tão adequado fazermos as malas e deixarmos para trás um processo que se desenrolava, mesmo que com toda a sorte de transtornos.
Claro… existem partos e casamentos que precisam ser cortados à faca, pois que se tornam viciosos e agridem as estruturas emocionais daqueles que dele fazem parte. Entretanto, cada dia mais me convenço que a simples desistência, apesar das crescentes facilidades, não soluciona as angústias na maior parte dos casos. Aqueles processos que precisariam de um tempo maior de amadurecimento – para sedimentar cumplicidades e aplacar mágoas – são cortados pelas lâminas vorazes dos bisturis e dos cartórios.
Uma pena tanta pressa, quando o que mais precisamos é paciência, perseverança e vontade de vencer obstáculos. Partos e casamentos duradouros escassearam no mundo moderno, mas será que isso tornou as pessoas mais felizes?