
Um grupo de ativistas brasileiras invadem uma propriedade rural que produz transgênicos e que plantam pinus para “reflorestamento”. Sabemos o estrago que este plantio produz para as propriedades próximas e a ação é coordenada pelo MST – Movimento dos Sem Terra.
Uma parcela significativa das pessoas que comentam a notícia pedem mais respeito
Mas… o que é respeito?
Como definimos isso?
Um exemplo: brancos europeus de olhos azuis invadem terras no oriente médio e expulsam 700 mil pessoas de suas casas, argumentando serem descendentes de uma tribo que lá viveu há 2 mil anos. Exigem que sua pele clara e seus olhos azuis não cause confusão: “sim, somos descendentes dos velhos patriarcas que por algum tempo viveram aqui!!“, mas não se preocupam em arrasar vilas inteiras, incendiar casas, destruir famílias, matar mulheres e crianças no afã de “limpar a terra dos impuros” e expulsar pessoas cujos ancestrais cultivaram aquelas terras há milhares de anos.
Não satisfeitos criam “prisões a céu aberto”, enclaves superpopulados com grades, muros e checkpoints. Realizam prisões sem julgamento, encarceramento de crianças, tortura e toda sorte de violações aos direitos humanos. Exclamam em alto e bom som para todos que seu direito àquela terra foi dado por Deus, pois no livro sagrado que adotam (o mesmo que diz que o som de trombetas fez os muros caírem) existe uma “terra prometida” (por sorte não é no meu bairro).
Como discutir com pessoas que afirmam que o genocídio, o racismo institucionalizado e a limpeza étnica são determinações divinas?
Hoje em dia 5 milhões de prisioneiros vivem enclausurados em uma pequena fração da terra que durante milhares de anos foi o lar de seus ancestrais. Diante de tantas violações de tantos direitos internacionais reconhecidos seria razoável pedir àqueles cuja honra foi destruída que sejam “respeitosos”, “educados”, “comedidos” e que parem de reivindicar seu direito, referendado por todas as instituições de direitos humanos do planeta?
Por outro lado, seria justo pedir que as mulheres agricultoras fossem mais “equilibradas” vendo a destruição dos ecossistemas pelo agronegócio? “Educação” e respeito às estruturas de poder é tudo o que os “donos” pedem a nós. O objetivo é fazer as coisa aparentemente acontecerem, enquanto eles sabem que – no final – nada vai mudar.
Nunca Bertold Brecht foi tão atual:
“Dos rios dizemos violentos, mas não dizemos violentas as margens que os oprimem“.
Dos “sem terra” dizemos radicais, mas não percebemos violento o modelo que os castiga.
Dos gritos dizemos barulho, mas não chamamos terror o silêncio que nos ensurdece.
Da luz dizemos ofuscante, mas não chamamos de morte a escuridão que nos cega.
Dos ativistas dizemos “vândalos”, mas não chamamos vandalismo as grades que os contém.