“Amicus Plato, sed magis amica veritas”
(Sou amigo de Platão, mas amo ainda mais a verdade.) Aristóteles
É por vezes difícil e desafiador reconhecer os valores mais profundos embutidos em nossas atitudes e no nosso discurso. Por vezes nos deixamos ofuscar pelo brilho das teses que defendemos sem nos dar conta de que, por baixo da tela fúlgida que encobre o que ardorosamente defendemos, existe uma questão filosófica mais ampla e complexa. A liberdade de falarem o que não me agrada é um assunto que sempre tomei como “sagrado”, assim como o direito ao contraditório, a busca de pluralidade nas expressões, a liberdade garantida e a resiliência para suportar opiniões contrárias. Desta forma, também considero essencial a necessidade de devolver as agressões com argumentos e não com violência. Quando tratamos das teses humanistas do nascimento é importante ter em mente que para combater o excesso de cesarianas é essencial que fundamentemos nossa causa com ideias e argumentos, e não com agressões e xingamentos. Para a defesa das minorias nossa postura não pode se afastar desse mesmo ideário: devemos utilizar a argumentação embasada na fraternidade e nos ideais humanísticos, sem cair na tentação de usar as mesmas armas cerceadoras daqueles que nos atacam.
A violência cometida contra as nossas opiniões é mais grave por ferir o direito de livre expressão do que por atacar algo que a medicina baseada em evidências comprova como sendo lícito, adequado e até mesmo benéfico. A humanização do nascimento é passível de debate, com profusão de argumentos livremente expressos de ambos os lados. Aliás, essa é a solicitação veemente que fazem os defensores destas ideias: um debate plural, cientificamente embasado e livre sobre a assistência ao nascimento. Entretanto, é fundamental para isso que tenhamos as garantias que o estado de direito oferece aos cidadãos: a certeza de que suas opiniões possam ser expressas sem coerção ou constrangimento.
Posso não concordar com um colega que defenda “cesarianas para todos”, mas não ousaria impedi-lo de manifestar suas teses e seus argumentos. Sem isso teremos uma situação grave, exatamente por agredir um dos preceitos fundamentais das democracias modernas: a liberdade de falar o que os alguns não querem ouvir.
Numa sociedade livre tal preceito está acima de qualquer consideração.